Num país onde a pobreza virou ativo político, o município de Bento Gonçalves (RS) decidiu devolver às pessoas aquilo que Brasília muitas vezes tenta adiar: autonomia. Não por descaso com os vulneráveis, mas por respeito. Aqui, a ajuda é ponto de partida —nunca ponto final.
Com um dos maiores IDHs (Índice de Desenvolvimento Humano) do país (0,778) e uma base econômica sólida, sustentada pela indústria moveleira e vinícola, Bento poderia se acomodar. Mas fez o contrário: foi atrás de quem ainda dependia do Bolsa Família, não para cortar direitos, mas para oferecer alternativas reais de futuro.
De novembro de 2024 a março deste ano, o número de famílias beneficiadas caiu de 2.115 para 1.738 — uma redução de 17,8% em apenas quatro meses. O dado não surgiu por acaso. A prefeitura estruturou uma política ativa de busca por empregabilidade, envolvendo gabinete do prefeito, instigações e as secretarias de Desenvolvimento Econômico, Desenvolvimento Social e Saúde. Cada família é visitada. Se o morador está saudável, em idade ativa e demonstra interesse, a equipe ajuda com currículo, conecta-o à empresa, leva até a entrevista e até mesmo ao primeiro dia de trabalho —priorizando vagas próximas da residência para eliminar barreiras.
É isso mesmo. Aqui, a prefeitura não assiste. Age.
A meta é clara: reduzir a dependência e fortalecer a dignidade via trabalho. Sem imposição, sem demagogia, sem populismo. O Bolsa Família tem seu valor —especialmente para mães solo, idosos e pessoas em vulnerabilidade severa—, mas não pode ser a âncora onde poderia haver impulso.
Bento Gonçalves é hoje a cidade com mais de 100 mil habitantes com o menor número de beneficiários do programa. E segue reduzindo.
Essa postura incomoda os que lucram com o coitadismo eleitoral. Mas Bento não governa para agradar Brasília. Governa para transformar vidas.
A verdadeira compaixão não infantiliza. Fortalece. E acredita que o povo brasileiro é feito de fibra, não de muleta. Se mais cidades tivessem coragem de contrariar a cartilha do comodismo, talvez o Brasil começasse, enfim, a andar com as próprias pernas.
TENDÊNCIAS / DEBATES
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Fonte ==> Folha SP