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É advogado com d mudo, estúpida! – 15/04/2025 – Mirian Goldenberg

A imagem apresenta uma mulher com cabelo preto e liso, vestindo uma blusa vermelha, posicionada no centro. Ao redor dela, há rostos estilizados em várias cores (roxo, laranja, verde, vermelho e azul), todos com olhos grandes e expressões que parecem estar falando ou gritando. O fundo é de uma cor rosa suave, criando um contraste com os elementos coloridos.

Fiz um vídeo para o Instagram da Folha sobre a minha coluna “No dia 1º de abril, quase caí no golpe do ‘falso advogado’”. No vídeo, confessei que morri de vergonha por quase ter caído em um golpe no Dia da Mentira.

Fiquei triste quando li alguns dos comentários sobre o vídeo: “AdEvogado?”; “Não é ‘adevogado’ que fala”; “Se for procurada por um ‘adevogado’ já sei que é fake”; “A desinformada que fala ‘adêvogado’ aprendeu o que é golpe de verdade kkkk”; “O adevogado é falso mesmo? kkk”; “’Adevogado’? Pode isso? Uma ‘intelequitual’ brasileira da linha de frente falando assim?”; “Um currículo e tanto e falando ‘adevogado?”; “Falso adEvogado. Esquerdista na certa kkk”; “Chamou de adEvogado. Então não foi difícil entender por que caiu em golpe… Eu teria é vergonha de falar adEvogado”; “Como pode dizer ‘adevogado’??? Falta de vergonha”; “A palavra ‘advogado’ se pronuncia ‘advogado’, com o ‘d’ mudo. A pronúncia ‘adevogado’ é um erro de ortoépia”; “É advogado com ‘d’ mudo, estúpida!”.

Só não fiquei completamente arrasada com as críticas agressivas e ofensivas porque também recebi centenas de comentários me agradecendo pelo alerta. Muitos deles eram respostas a quem criticou minha pronúncia.

“Pode sim. É a variedade linguística que nos permite essas riquezas de falares. Epêntese é um fenômeno muito comum em todas as línguas. Como colunista, ela não pode escrever assim, mas falar, ah, ela pode.”

“É algo comum de uma época mais antiga falada do português. Não é considerado um erro, assim como algumas pessoas falam advogadU. As pronúncias das palavras são diferentes nesse Brasil imenso. O importante é que a denúncia é gravíssima.”

“Advogada que sou sei que adevogado é apenas uma forma de falar de um Brasil que é tão vasto e diverso. Todo mundo entendeu do que se tratava, não?”

“Assim como areia já foi ‘area’ no passado, quem sabe advogado não ganha um ‘i’ no futuro? O uso da língua é soberano às regras estáticas da gramática. O importante é não cair no golpe do advogado, e essa mensagem ela passou.”

“Os fiscais da oralidade alheia, que não sabem nada de linguística e não acrescentam em nada para ninguém. Eu sou fonoaudióloga, já estudei linguística e posso dizer que existem muitas variações linguísticas como essa, ainda mais em um país tão grande e com diversas influências como o nosso. Mirian, o seu serviço é de utilidade pública para nós, por favor, continue. Você é luz!”

“Os falsos linguistas acham que existe alguém que fale corretamente o tempo todo? Infelizmente, a pronúncia incomodou mais do que a denúncia.”

Perguntei ao meu marido, que editou o vídeo, por que ele não me falou nada. Ele respondeu: “Porque eu acho bonitinho. Você nasceu em Santos. É filha de advogado e tem dois irmãos advogados. Desde menina aprendeu a falar assim. Não é fácil falar advogado, com o ‘d’ mudo. Eu falo advogado com ‘i’: ‘adivogado’. Será que alguém consegue falar advogado com o ‘d’ mudo?”.

Quando fiz o vídeo para a Folha, estava tão preocupada com a denúncia que nem por um segundo me preocupei com a pronúncia. Vergonha em dose dupla: além de quase ter caído no golpe do “falso advogado”, a minha pronúncia estava incorreta no vídeo.

Da próxima vez que fizer uma denúncia importante, vou tentar falar “advogado” com o “d” mudo. Será que vou conseguir?





Fonte ==> Folha SP

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