Do alto de seus 3,4 km de extensão e 54 anos de existência, o Minhocão segue uma ferida aberta a cortar o centro de São Paulo, uma via expressa de cizânias e polêmicas sobre sua utilidade e futuro.
Derrubá-lo por inteiro ou parcialmente; transformá-lo em um parque suspenso, como o High Line de Nova York; reduzir seus horários de operação; criar um plebiscito para consultar os paulistanos. As propostas variam, mas uma ação atabalhoada ilustra bem o raso planejamento da mobilidade urbana na metrópole.
Num arroubo empreendedor, o vice-prefeito Mello Araújo (PL) aproveitou a ausência do titular, Ricardo Nunes (MDB), para implantar há poucos dias um “projeto-piloto” nos baixios do elevado.
De uma hora para outra e sem debate público, destrui-se um trecho de 100 metros do passeio, que havia sido reformado pelo antecessor de Nunes, Bruno Covas.
O motivo soa insólito: criar algumas vagas de estacionamento gratuito. E isso em meio a uma via arterial, ou seja, para deslocamentos de grandes distâncias, onde estacionar não é prioridade. Há de se observar ainda riscos consideráveis para o trânsito com a entrada e saída dos automóveis e a precarização da ciclovia.
Os alertas, ignorados, partiram de documento da própria Companhia de Engenharia de Tráfego, que por sinal padece de vigoroso processo de sucateamento.
Mello justificou-se: combater o acúmulo de lixo e objetos em razão da presença de moradores de rua —um viés higienista, portanto, não pode ser descartado.
Da árvore para a floresta, recente relatório oficial apontou que os ônibus estão circulando mais devagar, inclusive em corredores e faixas exclusivas, com frota reduzida e mais espera nos pontos.
Trata-se de um estímulo ao uso de carros e motocicletas por aplicativos —enquanto isso, a expansão do metrô (este, estadual) avança lentamente há décadas.
Seja por cima, por baixo ou no subterrâneo, o transporte coletivo como fiador do ir e vir sustentável continua mal das pernas.
Fonte ==> Folha SP