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RS é o segundo estado com mais mulheres em conselhos de administração, aponta pesquisa

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O Rio Grande do Sul ocupa o segundo lugar entre os estados que têm mais mulheres atuando em conselhos de administração de empresas não Brasil, com 12,8% de conselheiras mapeadas nas cidades gaúchas. O dado integra a pesquisa Women at the Top, desenvolvida pelo Evermonte Institute. São Paulo lidera o ranking com 61% de participação feminina, enquanto Paraná (5,1%), Rio de Janeiro (4,1%) e Santa Catarina (3,1%) aparecem nas posições seguintes.

A pesquisa foi motivada pela crescente discussão internacional sobre a presença de mulheres em espaços de governança. “Nós entramos em janeiro em uma aliança global de recrutamento executivo e esse assunto sobre conselhos, governança corporativa e, principalmente, sobre a presença das mulheres nesses cenários começou a ser debatido com bastante força no último ano”, explica Helena Schröer, sócia do Evermonte Institute e coordenadora do estudo.

“Percebemos que as informações que tínhamos ainda eram muito empíricas, faltavam dados específicos para contribuir num cenário internacional de troca de informações”, acrescenta.

A advogada Laís Lucas é uma das gaúchas com cargo de conselheira. “Eu me tornei conselheira por conta da minha especialidade e dos meus anos de atuação e também porque a empresa entendeu que existia um espaço para melhorar a governança, pensando no futuro”, afirma ela, que atua em uma empresa de bebidas do Estado. A advogada estuda há mais de 20 anos a governança das empresas familiares, e essa trajetória resultou na sua eleição como membro do conselho de administração externo à empresa.

A rotina de uma conselheira de administração de empresas é múltipla. Embora as reuniões formais dos conselhos ocorram de maneira mensal, o trabalho vai muito além: envolve a análise constante de relatórios e indicadoresparticipação em comitês como os de auditoria, riscos ou ESG, além da atualização contínua sobre o mercado e as regulamentações. Normalmente, as conselheiras têm outras responsabilidades e atuam em mais de um conselho empresarial. “Existe sempre uma pauta prévia do que vai ser discutido e é necessário que o conselheiro se prepare para isso, leia e estude a organização”, explica Laís.

Segundo o Evermonte Institute, o fato de São Paulo estar na liderança nacional e a considerável diferença em relação aos demais estados são atribuídos a fatores estruturais e à centralização de grandes empresas e fundos de investimento na capital paulista. “São Paulo concentra as maiores companhias abertas, os principais fundos de investimento, grandes grupos familiares e as sedes de organizações que efetivamente estão relacionadas às políticas estruturadas de diversidade”, analisa Helena.

A coordenadora destaca ainda que as empresas listadas na bolsa têm exigências de transparência, o que acaba impulsionando a presença feminina nos conselhos.

Já no Rio Grande do Sul, apesar de o ambiente empresarial ser considerado mais tradicionala influência de empresas gaúchas de capital aberto serve de exemplo para outras organizações. “Empresas do agronegócio, do setor automotivo e bancário acabam se tornando referências para outras companhias, e esse espelhamento estimula o ingresso de mulheres nos conselhos”, aponta a pesquisadora.

Para ela, o processo de profissionalização exige competências técnicas mais diversase e mulheres gaúchas têm se preparado nesse sentido. “As mulheres têm 49% mais formações do que os homens. Isso significa que, em uma análise curricular, elas se destacam tanto pela formação quanto pela experiência profissional”, acrescenta.

A pesquisa Women at the Top foi realizada com uma abordagem quantiqualitativa. No levantamento quantitativo, foram analisados 98 perfis da rede Linkedin de conselheiros (49 homens e 49 mulheres) atuantes em empresas de capital aberto ou de grande porte no Brasil. Já na etapa qualitativa, foram entrevistadas oito conselheiras das regiões Sul, Sudeste e Centro-Ooeste, visando aprofundar a compreensão sobre os caminhos de ascensão feminina à liderança. O estudo não realizou recortes étnico-raciais ou etários.

Confira o quadro de dados:

“Especificamente, no cargo de conselheira eu nunca senti nenhum tipo de preconceito, qualquer dúvida ou mácula em relação à minha condição por ser mulher. Muito pelo contrário. Quando se chega ao topo, o que se percebe é que são mulheres extremamente qualificadasque tiveram a chance de crescer na empresa”, afirma a advogada Laís Lucas.

A conselheira, que atua em uma empresa de bebidas, também destacou a importância de grupos de apoiocomo o Fórum de Diversidade em Conselho, organizado por entidades, como o Instituto Brasileiro de Governança Corporativa (IBGC).

Apesar dos avanços, Helena Schröer, que coordenou a pesquisa, ressalta que a maioria das nomeações para conselhos ainda ocorre por meio de indicações e redes de contato, o que dificulta o acesso feminino a cargos de maior poder. Para ela, é preciso repensar os modelos de recrutamento.

“Hoje esses modelos acontecem majoritariamente por indicação e networking. Eu preciso começar a investir no perfil de mulheres conselheiras mesmo antes delas demonstrarem interesse. Investir em mulheres que tenham esse potencial dentro da própria empresa”, afirma.

Em maio entraram em vigor as novas diretrizes da Bolsa de Valores do Brasil (B3)voltadas justamente à ampliação da diversidade nas lideranças das empresas. A proposta, aprovada pela Comissão de Valores Mobiliários (CVM), exige que as companhias incluam ao menos uma mulher ou um representante de grupo minorizado no conselho de administraçãoou na diretoria estatutáriasob o modelo “pratique ou explique”.

Segundo estudo da própria B3, mais da metade das empresas listadas ainda não têm nenhuma mulher na diretoria estatutária, e a presença de pessoas negras na alta liderança é quase inexistente. A iniciativa vêm justamente para pressionar avanços concretos nesse cenário, criando mecanismos institucionais que incentivem práticas inclusivas nas estruturas corporativas.

A expectativa é de que esse tipo de medida, aliado ao avanço da governança e a profissionalização das empresas, amplie esse movimento de abertura. “Empresas que estão saindo da segunda ou terceira geração e evoluindo para modelos mais institucionais percebem que ter uma mulher muito bem preparadaque consiga dialogar com vários perfis dentro de uma sala, é muito relevante”, conclui Helena, sócia do Evermonte Institute.



Fonte ==> Folha SP

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