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Cessar-fogo não altera tensão no Oriente Médio

Cessar-fogo não altera tensão no Oriente Médio

O cessar-fogo anunciado na última terça-feira (24) entre Israel e Irã encerrou, ao menos oficialmente, 12 dias de escalada militar no Oriente Médio. No entanto, apesar do alívio inicial da comunidade internacional, a trégua é vista como frágil e distante de representar uma mudança estrutural na lógica do conflitoavalia o professor de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (Pucrs) João Jung.

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Para o especialista, o cessar-fogo imposto pelos Estados Unidos foge até mesmo dos parâmetros tradicionais do Direito Internacional. “Normalmente, quando dois países entram em conflito, há uma arbitragem por parte de um terceiro Estado, neutro para ambos. Aqui não foi o caso. Quem se colocou como mediador foi justamente um aliado estratégico de Israel e inimigo declarado do Irã”, afirma.

Agora, mesmo com o cessar-fogo formal entre os dois países, o clima de instabilidade persiste, alimentado pela atuação de grupos transnacionais como Hezbollah, Houthis e Hamas — organizações apoiadas financeiramente pelo Irã e ainda ativas em diferentes pontos da região. “A paz ali ainda é um cenário muito distante”, resume Jung.

A participação direta dos Estados Unidos, com ataques aéreos contra alvos iranianos, também contribuiu para agravar o quadro. “Todo mundo conhece o envolvimento indireto dos EUA, seja no financiamento ou no fornecimento de armamentos. Mas uma ofensiva militar direta da força aérea americana não estava no radar da maioria dos analistas”, afirma.

O movimento, segundo ele, expôs tanto o poderio militar americano quanto o risco de uma escalada ainda maiorque por pouco não ganhou proporções globais. “Foi quase um ‘all-in’ de pôquer do Trump, para testar se China ou Rússia reagiriam. E a resposta foi praticamente nula”, diz. Na avaliação de Jung, o episódio deixou claro que, apesar da retórica agressiva, nem Pequim, coerente com sua postura histórica, nem Moscou, sobrecarregada pela guerra na Ucrânia, demonstram interesse em entrar diretamente em um novo conflito.

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No Oriente Médio, enquanto os ataques cessaram, o embate seguiu no campo simbólico e propagandístico. Israel, pressionado pelas críticas internacionais às operações em Gaza e Cisjordânia, deslocou o foco para o Irã e conseguiu recuperar parte do apoio interno e externo. Já o Irã, mergulhado em uma grave crise econômica e social, utiliza o conflito como válvula de escape para conter protestos e reforçar o discurso de unidade nacional frente a um inimigo externo.

Em relação ao futuro, com uma estrutura de mediação frágil e a presença ativa de grupos armados na região, Jung avalia que o cessar-fogo imposto tende a ser apenas uma pausa táticainsuficiente para conter os riscos de novas escaladas militares. “Faltam mecanismos institucionais fortes para evitar provocações e impulsos de qualquer uma das partes. É um cenário muito delicado e imprevisível”, conclui.



Fonte ==> Folha SP

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