Os preços do café dispararam em agosto no campo, o que significa novos aumentos pela indústria e mais pressão no bolso do consumidor. Boa parte desse aumento ocorre devido ao tarifaço de Donald Trump. Mas não é só isso. O setor ainda busca uma resposta para o forte aumento de tarifas impostas pelos Estados Unidos. Esperava-se um afrouxamento, devido à importância da bebida brasileira no mercado americano, mas não foi o que ocorreu.
Pressionados pela demanda maior que virá com o inverno no hemisfério Norte, os importadores prorrogam contratos com os brasileiros e buscam o produto em outras origens, enquanto queimam estoques.
A avaliação é de Cesar de Castro Alves, gerente de consultoria agro do Itaú BBA. Esse é um pano de fundo, mas o setor passa por outros pontos que devem ser notados, segundo ele. A notícia ruim mais recente foi a geada no cerrado mineiro, que pode ter afetado 5% da produção da região para a colheita de 2026, o que representa uma perda de 400 mil sacas. Esperava-se para 2026 uma recomposição do potencial de produção do café arábica, o que não ocorre há quatro anos. Mesmo assim, Alves acredita em uma boa safra, que poderá ficar próxima de 70 milhões de sacas no total.
A saca de café arábica terminou agosto negociada a R$ 2.323, com alta de 28,2% acima do valor do final de julho. No mesmo período, a do conilon foi a R$ 1.534, com aumento de 49,2%, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada).
As altas internas, no entanto, foram inferiores às de Nova York, onde o produto teve evolução de 39,6% em agosto. Em Londres, o aumento do robusta foi de 50,2%. Isso mostra que o café brasileiro não consegue acompanhar a alta de Nova York, uma vez que as tarifas dificultam as exportações para os americanos.
A alta de preços reflete também um rendimento menor do que o esperado na safra brasileira que acaba de ser colhida. Os produtores de arábica estão percebendo que os grãos estão mais miúdos e isso, no final, representa um volume menor na colheita. Devido à queda de rendimento, o banco deverá refazer as contas da produção de café arábica deste ano. Prevista antes em 40,9 milhões de sacas, a produção poderá recuar para 38 milhões ou 39 milhões.
O posicionamento dos fundos de investimentos também mostra que a alta do café está associada a fundamentos de mercado, tanto na oferta como na demanda e nos estoques. “As posições líquidas desses fundos não subiram muito, e a alta do café, quando acontece sem o acompanhamento desses players, denota que, de fato, está amarrada em fundamentos”, afirma Alves.
Para ele, pode ser que a movimentação de mercado seja mais dos comerciais e que, portanto, haja mesmo um pouco de fundamento. O analista do Itaú BBA acrescenta que clima e florada também devem entrar na conta de eventuais riscos da produção do próximo ano, o que será mais bem definido lá por novembro.
O Brasil está praticamente sozinho na oferta de café neste período do ano. A safra do Vietnã, grande produtor de café robusta, virá a partir de novembro, o mesmo ocorrendo com a Colômbia, produtora de arábica. Alves acredita que, devido ao inverno, os americanos precisarão repor estoques e virão comprar café mais caro no Brasil.
Os preços podem ficar um pouco mais elevados até que esses pontos nebulosos saiam do radar, diz ele.
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Fonte ==> Folha SP