É um julgamento histórico? É. Acompanharei todos os pontos e vírgulas de ministros e advogados? Prefiro dormir numa cama de prego. Lerei as reportagens esmiuçadas, os artigos dos meus articulistas preferidos de política, as análises —inclusive daqueles de quem não gosto do viés—, mas não há chances de que me ocupe daquela cara sebosa mais tempo do que o necessário.
Jair Bolsonaro já monopolizou a vida, a saúde mental, as conversas de bar, os almoços de domingo. Deveria ter deixado a Presidência e se recolhido. Mas não. Depois de tramar contra a democracia, ele e sua família disfuncional continuaram a bagunçar o noticiário, o debate, a cotação do dólar e o equilíbrio cósmico do país. Acredito em astrologia? Não, mas estou confiante na previsão de que nesta quarta-feira (3) a Lua em Escorpião nos fará “encarar verdades incômodas”. Você é golpista? Eu não. Então, tô de boas. Aos que não estão, os rigores da lei.
Seria bonito se o Inelegível tivesse seguido a cartilha de alguns ex-presidentes: dar palestras caríssimas, escrever livros que ninguém lê —talvez esta não fosse uma alternativa para ele; sei lá, criar galinhas tal qual o sujeito simplão que ele jura ser. Como Bolsonaro não vai embora por vontade própria, que vá pelo caminho da Justiça. Que a história registre: em um país que ainda tem pesadelos com um passado nunca passado a limpo, que sejamos duros até com quem sonha em atentar contra a democracia.
Eu, de minha parte, pouparei até meu analista de uma conversa desagradável como essa. Já há gente perturbada demais nas ruas e nas redes trocando sopapos reais e virtuais. No máximo, quero os memes, a galhofa, o suspiro coletivo de alívio. Quem disse que o Brasil não é um país sério? Tome.
Agradeço aos jornalistas que cumprem esse papel com estoicismo, que continuam, por dever do ofício, sequestrados pela distopia criada pelo bolsonarismo, que fez do caos projeto de poder. Avisem quando Bolsonaro for oficialmente condenado. Quero só a manchete histórica, o print final, a notificação no celular.
Fonte ==> Folha SP
