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Morre David Baltimore, 87, ganhador do Nobel de medicina – 08/09/2025 – Ciência

Morre David Baltimore, 87, ganhador do Nobel de medicina - 08/09/2025 - Ciência

David Baltimore, biólogo que em 1975 ganhou o prêmio Nobel, morreu no sábado (6), em sua casa em Woods Hole, Massachusetts. Ele tinha 87 anos.

A causa foram complicações de vários cânceres, disse sua esposa, Alice Huang.

Baltimore tinha apenas 37 anos quando fez a descoberta premiada com o Nobel, derrubando o que era chamado de dogma central, que afirmava que a informação nas células fluía em apenas uma direção —do DNA para o RNA para a síntese de proteínas.

Baltimore mostrou que a informação também pode fluir na direção inversa, do RNA para o DNA. A chave foi encontrar uma enzima viral, chamada transcriptase.

A descoberta levou à compreensão dos retrovírus e vírus, incluindo o HIV, que usam essa enzima. Hoje, terapias genéticas com retrovírus desativados são usadas para inserir genes saudáveis no DNA dos pacientes para corrigir doenças genéticas.

Admirado, invejado, aclamado e atacado, Baltimore passou a maior parte de sua vida sob os holofotes científicos, uma figura imponente da biologia moderna. Foi um dos primeiros defensores da pesquisa sobre AIDS.

Também lutou contra acusações forjadas de fraude em um caso altamente divulgado.

Em 1968, Baltimore ingressou no corpo docente do MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts). Dois anos depois, ele começou o trabalho do Nobel.

Baltimore apresentou pela primeira vez seus dados derrubando o dogma central em um seminário noturno em uma sala de aula do MIT, convidando apenas professores e amigos. David Botstein, ex-professor de Princeton, estava lá.

Alguns anos depois, veio o Nobel, em uma premiação dividida com Howard Temin, que havia feito independentemente a mesma descoberta, e Renato Dulbecco, por seu trabalho em vírus tumorais.

História de vida

David Baltimore nasceu em 7 de março de 1938, em Manhattan, filho de Richard e Gertrude (Lipschitz) Baltimore. O pai trabalhava na indústria de vestuário e nunca foi à faculdade. A mãe estudou psicologia na New School e tornou-se membro do corpo docente lá antes de se mudar para Universidade Sarah Lawrence, onde obteve estabilidade aos 62 anos.

Desde o início, David foi uma estrela acadêmica —e talvez um pouco exibicionista. No ensino médio, chegou a entregar as respostas para sua lição de casa de matemática escritas nos cantos superiores de folhas de papel; conseguia resolver tudo mentalmente. “Tudo vinha muito facilmente para mim”, disse ele em entrevista para o Instituto de Tecnologia da Califórnia, onde foi presidente.

A paixão de Baltimore pela ciência foi estimulada após seu penúltimo ano no ensino médio. Sua mãe havia providenciado para que ele passasse um verão no Laboratório Jackson, no Maine, um centro para o estudo da genética de camundongos.

“Descobri que uma pessoa com apenas a educação que eu tinha poderia trabalhar na vanguarda da ciência”, disse Baltimore. “Voltei e disse: ‘É isso que minha vida vai ser’.”

Quando terminou o ensino médio, ele escolheu a Universidade de Swarthmore. Era o amanhecer da era da biologia molecular e ele queria fazer parte disso.

Os pesquisadores na época estavam descobrindo o código genético e como os genes fornecem as instruções para a produção de proteínas.

Ele ingressou no programa de doutorado na Universidade Rockefeller, em Nova York, onde seu trabalho atraiu atenção.

Um ano depois, atraído por Dulbecco, Baltimore entrou no Instituto Salk de Estudos Biológicos em San Diego. Naquele ano, Huang, que havia obtido seu doutorado em Johns Hopkins, veio para o Instituto Salk como pesquisadora de pós-doutorado. Eles se casaram três anos depois. Sua filha, TK Baltimore, nasceu em 1975. Além de sua esposa e filha, ele deixa uma neta.

Sua próxima posição foi como professor no MIT. Foi lá que ele refutou o dogma central e, em 1982, foi um dos fundadores do Instituto Whitehead, importante centro de pesquisa em biologia molecular e genética.

Acusações de dados forjados

Três anos depois, e uma década após seu Nobel, Baltimore se viu em um escândalo.

Uma pesquisadora de pós-doutorado, Margot O’Toole, acusou a Thereza Imanishi-Kari de relatar incorretamente dados em artigo publicado na revista Cell. Baltimore era um dos autores do artigo, embora o trabalho não tenha sido realizado em seu laboratório.

O caso se intensificou, com investigações dos Institutos Nacionais de Saúde e do Serviço Secreto, que conduziu análise forense dos cadernos de Imanishi-Kari. Também houve audiências contenciosas lideradas pelo democrata de Michigan John Dingell Jr., que era presidente do Comitê de Energia e Comércio da Câmara. Como laureado com o Nobel, Baltimore tornou-se alvo no caso; ele manteve sua posição, enfrentando Dingell nas audiências e insistindo que não houve fraude.

À medida que a investigação continuava, Baltimore, que havia deixado o MIT durante o episódio para se tornar presidente da Universidade Rockefeller, foi forçado a renunciar. Ele saiu em 1991, 18 meses após assumir o cargo. O MIT imediatamente o convidou de volta.

Baltimore e Imanishi-Kari foram inocentados em 1996 e as acusações de fraude tidas como infundadas. Mas, segundo Baltimore, o caso havia cobrado seu preço.

“Nunca poderei esquecer isso”, disse em entrevista na época.

Em 1997, Baltimore foi nomeado presidente do Instituto de Tecnologia da Califórnia. Ele deixou o cargo em 2006, mas permaneceu no instituto como professor de biologia e retornou ao seu laboratório.

Além do Nobel, Baltimore recebeu várias outrashonrarias, incluindo a Medalha Nacional de Ciências. Foi membro da Academia Nacional de Ciências, membro da Academia Americana de Artes e Ciências e presidente da AAAS (Associação Americana para o Avanço da Ciência), e publicou mais de 600 artigos científicos.

Durante seu tempo em Caltech, Baltimore nunca cessou sua pesquisa sobre AIDS, que começou em 1986. Ele também chefiou um comitê nacional sobre política de AIDS. E descobriu um gene causador de câncer no vírus da leucemia de Abelson, o que abriu caminho para a criação do medicamento contra o câncer Gleevec.

Ele implorou a outros virologistas que estudassem a AIDS —mas, disse ele, seus apelos tiveram pouco efeito.

“Eu disse que é responsabilidade de qualquer pessoa que trabalhe em virologia se envolver nesse problema”, disse Baltimore. “Ele ameaça ser o pior desastre de saúde pública do nosso tempo. Mas a maior parte da comunidade de virologia não respondeu. Eles estavam muito envolvidos em seu próprio trabalho e a AIDS havia se tornado muito politizada.”



Fonte ==> Folha SP – TEC

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