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BC acerta em vetar compra do Master

BC acerta em vetar compra do Master

Bernardo Guimarães, doutor em economia por Yale, foi professor da London School of Economics (2004-2010) e é professor titular da FGV EESP


Na semana passada, o Banco Central vetou a compra do banco Master pelo Banco de Brasília, o BRB. As partes envolvidas podem recorrer dessa decisão. Ainda que os detalhes da operação Folhapress sejam complicados, é claro que essa compra não deveria ocorrer.

Por que um banco estatal de Brasília compraria um banco comercial com sede em São Paulo? Há dois tipos possíveis de explicação. O primeiro envolve corrupção e interesses políticos. O segundo envolve ganhos para o banco estatal que seriam particularmente grandes, e por isso sua oferta pelo banco Master seria melhor que a de outros bancos comerciais privados.

De modo geral, o segundo tipo de explicação é improvável. O primeiro não. Portanto, essas compras não deveriam ocorrer. Assim, muito raramente, um banco estatal perderia uma oportunidade, mas com alguma frequência bancos estatais escapariam de maus negócios.

No caso específico, não há nada sugerindo que o valor do banco Master seria particularmente grande para o Banco de Brasília (e, por isso, o Itaú ou o Bradesco não fariam oferta melhor). Por outro lado, há muitos sinais de relações políticas importantes.

O problema não para por aí.

O plano é separar a “parte ruim” da “parte boa” do banco Master e vender ao BRB a parte boa. Para entender isso, suponha que houve um jogo São Paulo x Palmeiras, você apostou R$ 100 na vitória do São Paulo e R$ 100 na vitória do Palmeiras, e o São Paulo ganhou. A aposta no São Paulo é a “parte boa” e a aposta no Palmeiras é a “parte ruim”.

A ideia é vender só a parte boa. O problema é que a parte ruim tem valor negativo. Quem ficaria com esse prejuízo? Alguma outra parte, possivelmente o Fundo Garantidor de Crédito. Os donos do banco Master ficariam com os lucros da venda.

Pode isso, Arnaldo? Claro que não. É o jogo “se der cara, eu ganho; se der coroa, os outros perdem”.
Empresas às vezes quebram porque negócios envolvem risco. O lucro é, em parte, a remuneração por esse risco. Investimentos são decididos levando-se em conta as chances de lucros e perdas. Esse mecanismo é fundamental para o bom funcionamento de uma economia de mercado.

Premiar banqueiros ou empresários falidos não é só uma injustiça, é ruim para a economia: a expectativa de lucros mesmo que o negócio não funcione estimula investimentos ruins.

Pelo mesmo motivo, fundos de pensão que compraram títulos do banco Master devem arcar com o prejuízo – o pagador de impostos não ganharia os altos rendimentos se saísse cara, por que deve pagar a conta quando sai coroa?

De fato, às vezes, bancos são separados em “parte boa” e “parte ruim” e outra instituição financeira adquire a parte boa. De forma geral, o objetivo é evitar que a quebra de um banco se alastre pelo sistema financeiro e gere uma crise sistêmica. Isso, porém, não é o que ocorreria com a quebra do banco Master.

Ainda assim, essa operação não pode ser feita dessa forma. O banqueiro não pode vender a aposta que deu certo e entregar o prejuízo para uma outra parte. Nesses casos, o Banco Central deve liquidar extrajudicialmente o banco, as ações do banco ficam sem valor e o BC toca o processo dali para diante.

Dessa forma, o mecanismo que disciplina investimentos em uma economia de mercado continua ativo.



Fonte ==> Folha SP

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