Com o volume total de ações que entra com a oferta anunciada pela Cosan haverá diluição inicial de 77,5% considerando apenas a primeira oferta de R$ 1,45 bilhão de ações ordinárias. Ao se contabilizar a emissão de até 550 milhões de ONs, e ainda com o lote adicional, essa diluição pode superar os 100%. Isso vai mais que dobrar o total de papeis no mercado, considerando que hoje há quase 1,87 bilhão de ONs da Cosan.
A empresa anunciou emissão de 2 bilhões a R$ 5, abaixo do preço de tela de R$ 7,50. “Vai se zerar o valor de equity da empresa”, diz um executivo a par do acordo. A Cosan vale R$ 14 bilhões na bolsa.
Procurados, Cosan e BTG não se manifestaram.
Segundo pessoas a par da operação, tratou-se de fechar esse desenho dentro das possibilidades, porque a situação do grupo, com o passar dos meses — pela alta alavancagem e poucas soluções com liquidez rápida na mesa —, foi se tornando muito complexa.
“Fizeram o que foi possível. A situação era bem ruim, não sei se o mercado tinha noção exata, e ainda não se resolve completamente. Mesmo com a oferta, ainda existe a dívida abaixo da holding, das outras empresas, que continua pressionando”, diz a fonte a par da negociação.
Para uma fonte ligada à Cosan, há outra percepção: a situação fica mais confortável _ o endividamento deve ir de 3,7 vezes na relação dívida líquida e ebitda para 1,0 vez a 1,5 vez. O ebitda mede lucro antes de juros impostos, amortização e depreciação. A dívida da holding soma R$ 17 bilhões e os R$ 10 bilhões abatem esse valor. “Foi a melhor saída para a Cosan e para o (Rubens) Ometto. A venda de ativos que falávamos não seria tão interessante pelo preço descontado no mercado atualmente”, diz a fonte.
O Valentia ainda apurou que, pelo acordo entre Ometto e o BTG, o banco pode ter o controle de fato da empresa no intervalo de seis anos.
Investidores passaram a ligar neste domingo para bancos e assessores envolvidos na transação, após a divulgação do fato relevante sobre a oferta de ações, questionando porque a companhia não discutiu uma reestruturação de dívida.
As conversas aconteceram num tom pouco amistoso, segundo fontes ouvidas. Nas ligações, o Valor apurou que eles ouviram que Ometto não queria esse caminho, de ter que entrar nesse tipo de negociação com credores, e preferiria uma diluição “mesmo brutal” e a entrada de um banco na empresa.
“Reestruturar dívida nem estava na mesa”, rebate um executivo próximo ao grupo. “Do cardápio possível, com o acordo de agora, mantemos governança com lockup de quatro anos, com controle da companhia com o Ometto”, disse. “Ainda oferecemos ao mercado preço um atrativo (os R$ 5) para acompanhar a transação. A recepção foi positiva”, diz essa fonte.
Uma gestora e uma equipe de advogados com tradição em contenciosos internacionais afirmaram neste domingo (21) ao Valor que pode haver mobilização para “class action” nos EUA, e se prepara para se movimentar a partir de amanhã nesse sentido.
Ao se considerar o fechamento do papel na sexta-feira, a R$ 7,50 (queda de 4,46% frente ao dia anterior), há um deságio de um terço no preço informado no fato relevante.
A expectativa de parte do mercado é que a ação da empresa poderá reagir negativamente na abertura do pregão desta segunda-feira (22), ao se considerar a diluição, e isso poderia contaminar os papéis das empresas ligadas à Cosan, como Rumo e Raízen, dizem os próprios assessores próximos à oferta.
Fonte ==> Exame