O Departamento de Justiça dos Estados Unidos indiciou criminalmente nesta quinta-feira James Comey, ex-chefe do FBI e crítico do presidente Donald Trump, em uma escalada sem precedentes da campanha de retaliação do republicano contra seus inimigos políticos.
Se condenado, Comey pode pegar até cinco anos de prisão. Ele foi acusado de fazer declarações falsas e obstruir uma investigação do Congresso. Em um vídeo no Instagram, o ex-diretor do FBI disse ser inocente estar de “coração partido” pela ação do Departamento de Justiça e ter “grande confiança” no sistema judicial do país.
Trump ameaça prender seus rivais políticos desde a campanha eleitoral para o primeiro mandato, em 2015, mas a acusação de hoje marca a primeira vez que seu governo conseguiu indiciar um adversário.
O Departamento de Justiça também está investigando outros desafetos do presidente, como Letitia James, procuradora-geral de Nova York, e John Bolton, que atuou como assessor de segurança nacional de Trump no primeiro mandato.
As acusações violam normas de longa data que visavam isolar o Departamento de Justiça dos EUA de pressões políticas. O promotor federal da Virgínia, encarregado de conduzir o caso, renunciou na semana passada após despertar a ira de Trump por expressar dúvidas sobre as acusações. Outros membros do escritório disseram que as provas não justificam o indiciamento de Comey, segundo fontes familiarizadas com o caso.
Trump, que vem pressionando a secretária de Justiça, Pam Bondi, a processar Comey e outros críticos, comemorou a notícia. “Justiça na América!”, escreveu ele nas redes sociais. “Ele tem sido tão ruim para o nosso país, por tanto tempo”.
O presidente americano demitiu Comey em 2017, no início de seu primeiro mandato. Desde então, ele tem atacado regularmente a forma como o ex-diretor do FBI conduziu uma investigação do órgão que detalhou os contatos entre a campanha de Trump e agentes da Rússia.
Desde que Trump voltou ao cargo em janeiro deste ano, o Departamento de Justiça vem analisando um depoimento dado por Comey em 2020, quando ele foi intimado a esclarecer a investigação sobre a campanha de Trump e os russos. Na ocasião, ele negou ter autorizado a divulgação de informações confidenciais à imprensa.
A acusação alega que Comey mentiu para o Congresso ao afirmar que não havia autorizado ninguém no FBI a ser fonte anônima em reportagens sobre o caso.
A tentativa de perseguir Comey foi vista com ceticismo no Distrito Leste da Virgínia, o escritório do procurador federal responsável pelo caso.
Depois que o principal promotor federal do distrito, Erik Siebert, renunciou na semana passada, outros membros do escritório disseram à sua sucessora, Lindsey Halligan, que as acusações não deveriam ser apresentadas devido à falta de provas, de acordo com uma fonte.
Halligan atuou mais recentemente como assessora da Casa Branca e, antes disso, foi uma das advogadas pessoais de Trump.
O genro de Comey, Troy Edwards, renunciou ao cargo de promotor de segurança nacional após a notícia na quinta-feira, de acordo com uma cópia de sua carta de demissão vista pela Reuters.
A filha mais velha de Comey, Maureen Comey, foi demitida de seu cargo de promotora federal em Manhattan em julho. Ela entrou com uma ação judicial no início deste mês, com seus advogados afirmando na denúncia que ela foi demitida “exclusivamente ou substancialmente porque seu pai é o ex-diretor do FBI James Comey”.
Trump e Comey têm uma relação acirrada desde o início do primeiro mandato do presidente. Trump o demitiu do cargo de diretor do FBI dias depois que Comey confirmou publicamente que o presidente estava sob investigação por causa das conexões de sua campanha eleitoral com a Rússia. Comey então emergiu como um crítico proeminente do presidente, chamando-o de “moralmente inadequado” para o cargo.
A demissão de Comey levou à nomeação de outro ex-chefe do FBI, Robert Mueller, como conselheiro especial para assumir a investigação sobre a Rússia, que revelou inúmeros contatos entre a campanha e autoridades russas, mas concluiu que não havia evidências suficientes para estabelecer uma conspiração criminosa.
Trump atacou reiteradamente a investigação, chamando-a de “caça às bruxas”. Seu segundo governo tem procurado minar as conclusões das agências de inteligência e de aplicação da lei dos EUA sobre a interferência russa na eleição presidencial de 2016, na qual Trump derrotou sua rival democrata Hillary Clinton.
Um órgão interno de fiscalização do Departamento de Justiça encontrou evidências de inúmeros erros, mas nenhuma parcialidade política em relação à abertura da investigação pelo FBI. Os republicanos há muito afirmam que a investigação tinha como objetivo minar o primeiro governo de Trump.
O órgão interno de fiscalização do Departamento de Justiça, em um relatório de 2019, criticou Comey por pedir a um amigo que entregasse ao New York Times memorandos detalhando suas interações pessoais com Trump. O Departamento de Justiça, durante o primeiro mandato de Trump, recusou-se a apresentar acusações criminais contra Comey.
Fonte ==> Exame