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Trump imita Venezuela e tenta subverter as Forças Armadas – 01/10/2025 – Opinião

Trump imita Venezuela e tenta subverter as Forças Armadas - 01/10/2025 - Opinião

Para alguém que nunca serviu às Forças Armadas, o americano Donald Trump demonstra um apreço especial à ritualística militar.

Coalhou o Salão Oval com símbolos bélicos e promoveu no seu aniversário o maior desfile fardado em décadas na capital, Washington. Ao reunir-se com Vladimir Putin no Alasca, montou um show aéreo para impressionar o russo, ele próprio acostumado a exibições do tipo em casa.

Trump lidera a maior potência bélica da história, que consome 40% dos recursos de defesa do planeta. Tal musculatura é lustrada pelo legalismo de um estamento que, desde a Guerra Civil finda em 1865, não vê viabilidade para rupturas em seus quadros.

Fiel ao seu projeto de demolição do edifício da democracia americana, o republicano promoveu uma pantomima inédita na terça (30), convocando todos os cerca de 800 oficiais-generais sob seu comando para uma reunião.

Nela, ele e seu agora renomeado secretário da Guerra, Pete Hegseth, protagonizaram um espetáculo em que a fanfarronice exemplificada pela crítica ao sobrepeso de generais escamoteia um aspecto perverso do trumpismo: a tentativa de dobrar as hostes armadas a seus caprichos.

Hegseth foi direto: “Se as palavras que eu digo hoje estão deixando seus corações apertados, então vocês deveriam fazer a coisa honrada e renunciar”.

Como já expurgou mais de uma dúzia de militares de alto escalão, notadamente negros e mulheres, o secretário insinua um movimento mais amplo de indicação de alinhados ao projeto da direita populista americana.

Foi exatamente isso que fez a esquerda chavista na Venezuela, culminando na ditadura de Nicolás Maduro —ironicamente, ela mesma ameaçada de ataques diretos pelos Estados Unidos.

Trump ainda desenhou planos. Disse que seu país está “sob uma invasão interna” e que os militares usariam as “cidades inseguras como campo de treinamento”, referência aos polêmicos envios de tropas a lugares que considera tomados pelo crime.

Não por acaso, já foram e serão alvos da ação cidades governadas pela oposição democrata. Num país cuja unidade foi forjada no combate à secessão, o que se insinua é preocupante.

No primeiro mandato, o alto escalão fardado foi essencial para conter os impulsos golpistas de Trump, chamado posteriormente de “aspirante a ditador” pelo general mais graduado do país. Agora, os freios e contrapesos ainda não seguraram o republicano, apesar de a Constituição exigir militares apolíticos.

O belicismo do presidente não parece constrangido pelo caos de sua gestão. Enquanto a Casa Branca defende ampliação das Forças, o governo paralisa suas atividades devido à falta de consenso em torno do Orçamento.

Em tal cenário, fica a dúvida se a investida de Trump será esvaziada pela ligeireza com que trata temas sérios ou se prosperará em meio à confusão reinante.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte ==> Folha SP

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