Peço licença para retomar dois assuntos na linha “a volta dos que não foram”: comentários no site e cobertura de operações.
A questão dos comentários na Folha vai além de problemas apenas técnicos. Inclui o modelo de negócios e a devida prioridade editorial a esse sistema de trocas com quem assina e lê o jornal.
As queixas continuam a chegar: mensagens enviadas para moderação sem motivo aparente, falta de notificação sobre liberação ou não, comentaristas não identificados por nome verdadeiro, punições para uns e condescendência com outros etc.
Num espaço que estimula a participação do leitor, não faz sentido deixá-lo no vácuo, sobretudo em relação à moderação. Moderar é tarefa cara, que carece de investimento, e a curadoria dos comentários não é muito mais simples do que a própria edição de notícias. É ela, afinal, que ajuda a dar cara à seção: um fórum de discussão qualificada ou um inventário de vitupérios.
Em troca do bônus do “engajamento”, que se converte em métricas monetizáveis, é preciso investir também em mais agilidade e transparência.
Enviei ao jornal algumas questões frequentes sobre o tema. As respostas, abaixo, são da Secretaria de Redação e mostram que ainda há muito trabalho pela frente.
Há mecanismos para identificar perfis falsos nos comentários? Há validação do CPF? Hoje a permissão de quem comenta ou não é feita a partir da assinatura. Quem assina pode comentar. É essa a validação que o sistema de comentários faz: consulta se tem assinatura ativa. Não temos validação de nome/CPF, infelizmente.
A equipe de Interação, quando identifica postagens que sistematicamente violam as regras, remove o perfil do assinante da base de comentadores e bloqueia as publicações. Porém, caso o usuário faça outra assinatura, consegue voltar a comentar. É importante destacar que antes de qualquer cancelamento cruzamos informações, entramos em contato por email e, em alguns casos, podemos até ligar.
Mas sim, o jornal estuda meios para mitigar este problema de forma mais automática.
A Redação também já testa um sistema que usa IA para moderar comentários (parte das denúncias sobre comentários problemáticos é derivada de moderação manual ou de uma automatização obsoleta). Isso possibilitaria rastrear com mais facilidade os comentadores/comentários mais agressivos. Como evolução, estuda-se a possibilidade de a IA interagir com o comentador, para tentar inibi-lo de escrever mensagens ofensivas ou fora das regras, promovendo o melhor debate.
Há perspectiva de melhoria técnica para incentivar a interação entre leitores? Uma leitora também pede extensão do limite de caracteres. Sobre extensão de limite de caracteres, não estudamos nada nessa frente ainda. Mas ao evoluirmos a plataforma de comentários para, no futuro, permitir mais interação, pode ser algo considerado, sim.
A moderação é encarada como “censura” por parte dos comentaristas mais frequentes. Como o jornal responde a isso? O sistema de comentários completa 20 anos em 2026, e esta é uma questão que sempre apareceu entre os leitores. A pergunta é: o que seria censura para o leitor? A Folha não remove posts com base em critérios morais ou políticos. Mas a Folha tem a obrigação de remover comentários que ferem as regras, como palavrões, propaganda, ofensas. Também se reserva o direito de não permitir comentários nos textos que considerar que não os devam ter, por exemplo. Muitas vezes, é chamada de censura alguma demora para aprovação dos conteúdos, já que há comentadores 100% moderados, por exemplo.
OPERAÇÃO E REPETIÇÃO
De terça a sexta, a Folha noticiou as operações Recon, Plush, Octanagem e Auditoria. Uma teria desvendado um plano da facção criminosa PCC para matar autoridades de SP, outra mirava lavagem de dinheiro do PCC por meio de lojas de pelúcia em SP, outra tinha como alvo postos de combustíveis suspeitos de ligação com o PCC e houve até a que buscava membros de um “setor de ‘auditoria’ de biqueiras do PCC”.
No jornal, a estrutura das notícias costuma se repetir: O órgão tal deflagrou uma operação que mira suspeitos de fazer alguma coisa relacionada à facção criminosa. Foram cumpridos X mandados de prisão e/ou Y de busca e apreensão. O nome da operação é tal. Seguem-se falas de autoridades da Segurança Pública.
Raramente aparecem desdobramentos dessas operações. No presente caso, ignora-se o que uma pode (ou não) ter a ver com a outra, em textos estanques e sem muita substância além do anúncio de órgãos públicos sobre seu trabalho. É para isso que o jornal serve?
Fonte ==> Folha SP