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Cientistas recuperam RNA de mamute morto há 39 mil anos – 15/11/2025 – Ciência

Dois técnicos em roupas brancas manipulam cuidadosamente um corpo mumificado de mastodonte, com pele e pelos preservados, exposto em ambiente escuro.

Cientistas recuperaram o RNA de um mamute-lanoso que habitou a Sibéria cerca de 39 mil anos atrás. A extração da molécula, necessária para a maioria das funções biológicas, foi descrita em artigo publicado nesta sexta-feira (14) na revista Cell.

O RNA, isolado e sequenciado com sucesso, foi extraído do tecido muscular da perna dianteira esquerda de um espécime macho juvenil —estima-se que ele tivesse de 5 a 10 anos de idade.

O fóssil desse mamute, já extinto, ganhou o nome de Yuka. Sua descoberta ocorreu em 2010 no permafrost siberiano, ao longo da costa de Oyogos Yar, na fronteira com o mar de Laptev.

Yuka é um dos mais bem preservados espécimes de mamutes encontrados. Antes, pesquisadores já haviam sequenciado o DNA do espécime, que tinha cerca de 1,6 metro de altura até o ombro.

O RNA revelou quais genes estavam “ativados” no tecido do animal próximo ao momento de sua morte, mostrando sinais de estresse celular.

A extração do RNA se junta aos avanços dos últimos anos no estudo de DNA antigo, que carrega as instruções genéticas para os organismos vivos, e das proteínas antigas, as moléculas que constroem e operam grande parte da maquinaria celular.

Abreviação de ácido ribonucleico, o RNA serve como as mensagens enviadas do genoma de um organismo para sua maquinaria celular, informando às células quais genes ativar ou desativar, como e quando regular sua função e quais proteínas produzir.

“Com o RNA, é possível acessar a biologia real da célula ou tecido acontecendo em tempo real nos últimos momentos de vida do organismo”, afirmou o geneticista e veterinário Emilio Mármol, do Instituto Globe da Universidade de Copenhague, autor principal do novo estudo.

“Isso nos dá acesso direto ao panorama funcional do metabolismo celular dos mamutes-lanosos quando estavam vivos, algo que não é possível —pelo menos não na extensão que relatamos— apenas usando DNA ou proteínas. Adicionar essa camada de informação fornece uma visão mais abrangente da biologia dos mamutes-lanosos”, acrescentou o pesquisador.

O RNA é mais frágil que o DNA e as proteínas. O DNA mais antigo recuperado até hoje foi de animais, plantas e micróbios datados de cerca de 2 milhões de anos atrás, de sedimentos na Groenlândia. As proteínas mais antigas vieram de restos dentários de um rinoceronte sem chifre que viveu há cerca de 23 milhões de anos no Alto Ártico canadense.

Até agora, o RNA mais antigo recuperado foi de um filhote de lobo que viveu na Sibéria há cerca de 14 mil anos.

“A descoberta principal é que podemos recuperar RNA de uma amostra tão antiga. É uma prova de princípio que abre as portas para análises muito mais detalhadas dos padrões de expressão gênica na megafauna da Era do Gelo”, disse o geneticista e coautor do estudo Love Dalén, da Universidade de Estocolmo e do Centro de Paleogenética na Suécia.

Yuka sofreu trauma antes da morte, com cortes profundos em sua pele indicando um ataque de um leão-das-cavernas, uma espécie extinta que era um primo adaptado ao frio e mais corpulento do atual leão africano.

“Nenhuma das marcas é grave o suficiente para ter causado a morte, então ainda não está muito claro por que Yuka morreu”, afirmou Dalén.

Os pesquisadores detectaram em Yuka moléculas de RNA que codificam proteínas envolvidas na contração muscular e regulação metabólica sob estresse, possivelmente, mas não necessariamente, decorrentes desse ataque.

Cientistas pensavam que o RNA se degrada em apenas minutos ou horas após a morte, mas

O novo estudo, assim como outros, reforça a hipótese de que o RNA pode sobreviver por muito tempo sob as circunstâncias certas. As condições gélidas da Sibéria foram particularmente propícias para a preservação do RNA de Yuka.

Os pesquisadores disseram acreditar que, sob as condições certas, o RNA pode ser recuperado de restos ainda mais antigos.

“Esperamos que nosso trabalho suscite um renovado interesse na exploração de RNA em outros restos antigos, não necessariamente da Era do Gelo ou de espécies extintas, mas também de restos medievais ou históricos de organismos tanto extintos quanto existentes”, afirmou Mármol.



Fonte ==> Folha SP – TEC

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