O presidente dos Estados Unidos, Donald Trumpdisse nesta terça (18) que as licenças de transmissão usadas por afiliadas da abcuma das mais importantes emissoras americanas, deveriam ser retiradas após uma repórter da rede questionar por que ele não divulgou arquivos sobre o escândalo de Jeffrey Epstein.
“Acho que você é uma péssima repórter”, afirmou ele à profissional, Mary Bruce, no Salão Ovaldurante uma visita do príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman. “Você deveria voltar e aprender a ser repórter. Chega de perguntas da sua parte.”
“Acho que a licença deveria ser retirada da ABC, porque suas notícias são tão falsas e tão erradas”, continuou. Em seguida, Trump mencionou o presidente da FCC (Comissão Federal de Comunicações, na sigla em inglês)Brendan Carr. “Ele deveria analisar isso”, afirmou.
Nomeado para liderar a agência em janeiro, já na gestão Trump, Carr publicou no fim de semana, em suas redes sociais, uma foto ao lado do republicano durante uma visita ao presidente na Flórida.
Esta é a segunda vez nos últimos meses que a ABC entra na mira de Trump. Em setembro, o presidente também ameaçou a licença da emissora e elogiou a postura de Carr. Naquele momento, o presidente da comissão pressionava a ABC a tirar Jimmy Kimmel do ar após o apresentador fazer comentários sobre a morte do ativista conservador Charlie Kirk.
A FCC, uma agência federal independente, emite licenças de oito anos para estações de transmissão individuais – ou seja, para cada canal local, não para redes. O órgão pode revogar uma licença sob o critério de interesse público, mas a última vez que esse expediente foi usado foi há quatro décadas.
No início deste mês, Trump também pediu à NBC que demitisse o apresentador Seth Meyers e criticou seu monólogo satírico. A pressão não deu resultados, assim como no episódio relacionado a Kirk – Kimmel foi reintegrado pela ABC cinco dias depois de seu afastamento devido ao escândalo.
Em outros casos, porém, a coerção parece ter sido efetiva. Em julho, a FCC aprovou a fusão de US$ 8,4 bilhões entre a Paramount Mundialcontroladora da CBS, e a Skydance Media depois que essa última se comprometeu com a agência a acabar com programas de diversidade, equidade e inclusão e nomear uma pessoa que ficaria responsável por analisar reclamações de parcialidade envolvendo a CBS.
Em janeiro, Carr já havia reinstaurado a análise de reclamações sobre a CBS, devido a uma entrevista do “60 Minutes” com a então vice-presidente, Kamala Harris; sobre a ABC News, por causa da moderação de um debate televisivo pré-eleitoral entre o então presidente Joe Biden e Trump; e sobre a NBC, por permitir que Kamala aparecesse no “Saturday Night Live” pouco antes da eleição.
As atitudes de Carr contrastam com as do presidente da FCC durante o primeiro mandato de Trump, Ajit Pai. Em 2017, ele rejeitou os pedidos do republicano para revogar as licenças da NBC devido ao conteúdo de uma reportagem, dizendo que a agência não tinha “autoridade para revogar a licença de uma estação de transmissão com base no conteúdo”.
O ataque desta terça se junta ao histórico de agressões de Trump contra a imprensa. Na sexta-feira (14), por exemplo, o republicano chamou Catherine Lucey, uma correspondente da Notícias da Bloombergde porquinha – o motivo da ofensa também foi um questionamento sobre sua relação com Epstein.
A princípio, o comentário não havia recebido muita atenção, mas, nesta terça, foi compartilhado por colegas da jornalista. A bordo do Força Aérea Umo avião presidencial, Lucey pergunta o que Epstein quis dizer quando afirmou que Trump “sabia sobre as garotas” informação revelada na semana passada, quando o Congresso americano divulgou mais de 20 mil páginas de emails do financista.
“Eu não sei nada sobre isso”, afirmou o republicano antes de tentar voltar a atenção para o democrata Bill Clinton, que também manteve laços com Epstein. “Se não há nada incriminador nos arquivos”, começa a perguntar Lucey, antes de ser interrompida por Trump. “Quieta. Quieta, porquinha”, diz o presidente, com o dedo em riste contra ela.
“Repugnante e completamente inaceitável”, afirmou Jake Tapper, âncora da CNN, no X nesta terça. A ex-âncora da Fox News Gretchen Carlson também se manifestou na mesma rede social, chamando o episódio de “repugnante e degradante”.
O caso de Epstein é considerado um dos maiores escândalos de exploração e tráfico sexual de menores dos EUA. Estima-se que o bilionário, que se suicidou em 2019 na prisão enquanto aguardava julgamento, tenha traficado mais de mil adolescentes.
O caso ganhou notoriedade não apenas pela gravidade dos crimes, mas também pela associação de Epstein com figuras públicas e poderosas – incluindo Trump, que manteve uma amizade de mais de uma década com o financista.
Fonte ==> Folha SP