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A matemática e o buldogue de Darwin – 09/12/2025 – Marcelo Viana

A matemática e o buldogue de Darwin - 09/12/2025 - Marcelo Viana

“A matemática, que nada sabe da observação, da experimentação, da indução, da causalidade.” Que é inútil para qualquer fim científico, portanto. Essa era a visão, nada lisonjeira, que o cientista britânico Thomas Henry Huxley (1825-1895) tinha sobre aquela que o alemão Carl Friedrich Gauss (1777-1855) chamava de “a rainha das ciências”.

Em seu tempo, Huxley era um dos cientistas mais respeitados (e temidos) do mundo, com importantes contribuições em zoologia, geologia e antropologia. Seus interesses intelectuais iam além, incluindo, por exemplo, a religião. Tal era a sua estatura intelectual que Adrian Desmond, um de seus biógrafos, escreveu: “Por volta de 1870, ciência era sinônimo de Professor Huxley”.

Mas o que moldou a sua reputação para as gerações futuras foi, mais do que qualquer outra coisa, a energia e o prazer com que entrava em distintas disputas científicas. O mesmo biógrafo também escreveu que, “com sua fama pugilística, o nome de Huxley estava nos jornais quase toda semana”.

A mais famosa dessas disputas foi em defesa da teoria da evolução, proposta por Charles Darwin (1809-1882). Tendo contribuído ele próprio para o tema, Huxley se convenceu de que o colega estava mais na frente e no caminho certo, e partiu para convencer todo mundo desse fato, a bem ou a mal. Com tal determinação que ficou conhecido como “buldogue de Darwin”.

Aliás, os dois homens não podiam ter personalidades mais distintas. Darwin era discreto e reservado, e tinha profunda admiração pela matemática: “Lamento profundamente não ter avançado o suficiente para compreender pelo menos algo dos grandes princípios fundamentais da matemática, pois as pessoas dotadas com esse conhecimento parecem possuir um sentido extra”.

Não sabemos bem onde se originou a visão que Huxley tinha da matemática. Teve algo que ver com o fato do seu pai ser professor da disciplina? Em outros temas, ele se mostrou brilhante desde muito cedo. Aos 17 anos, já tinha concebido um sistema que dividia os domínios do conhecimento em dois grupos: objetivos (física, fisiologia e história) e subjetivos (metafísica, teologia, lógica e… matemática). Aliás, seu ponto de vista da matemática foi piorando ao longo dos anos. “O matemático começa com algumas poucas afirmações, cuja prova é tão óbvia que elas são consideradas autoevidentes, e o resto de seu trabalho consiste em fazer deduções sutis a partir delas”, escreveu mais tarde.

Huxley não foi o primeiro a questionar a utilidade da matemática, nem o último. É uma discussão que não se extinguiu nem nos nossos dias, uma era em que as aplicações do conhecimento matemático estão, literalmente, por toda a parte (embora nem sempre sejam fáceis de identificar). Mas a reputação de Huxley, e o fato de ter publicado seus comentários sobre “a matemática que nada sabe” em duas revistas de grande circulação, incomodaram particularmente a comunidade matemática: alguém tinha que dar uma resposta contundente!

O escolhido foi o renomado algebrista britânico James Joseph Sylvester (1814-1897), por ocasião do encontro de 1869 da Associação Britânica para o Avanço da Ciência. Não perca na semana que vem!



Fonte ==> Folha SP – TEC

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