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Antes da margem equatorial, o momento é de transição energética – 04/03/2025 – Opinião

Os perigos da retórica petroleira - 28/02/2025 - Opinião

Não se trata de explorar petróleo ou não. Nem sequer de pesquisar o tamanho da bacia petrolífera. Limitar o tema à capacidade do Ibama de definir critérios objetivos para uma exploração responsável, e à Petrobras cumpri-los com rigor, é pouco. O momento é totalmente inoportuno. A prioridade precisa ser a transição energética.

A COP30, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima, precisa tratar das causas, as emissões de gases de efeito estufa (GEE) —principalmente os combustíveis fósseis—, e não se limitar aos efeitos.

Não se trata de desprezar o potencial de riqueza do petróleo na margem equatorial, prejudicando o desenvolvimento da região Norte, que teria na exploração de petróleo fonte de emprego e renda.

A COP oferece a oportunidade para valorizar características únicas do Brasil. A forte presença de uma das energias do futuro, os biocombustíveis. O sequestro de carbono, oposto das emissões de GEE, onde as possibilidades são imensas para reflorestamento e regeneração florestal. Uma matriz energética diferenciada com pequena participação dos combustíveis fósseis. A grande questão, ou melhor, o que deveria ser a grande questão, são as emissões dos combustíveis fósseis —onde o Brasil tem participação irrisória em termos globais.

É o momento único da inserção do país em um novo modelo de desenvolvimento sustentável baseado nas energias renováveis distantes das emissões de GEE. Somente o Brasil pode liderar isso. Cumpre ao sul compensar o norte do país por manter as jazidas guardadas. Novos usos para o petróleo, a ser extraído no futuro, atrairão melhores preços.

Equacionar o desmatamento, em particular da Amazônia, ainda exige atenção. Resultado de ações ilegais, hoje mais do que isso, do crime organizado. Somos nós, brasileiros, que desejamos uma Amazônia preservada. Falta prioridade política para a segurança pública.

O momento é o da transição energética, reduzir os combustíveis fósseis ampliando as fontes renováveis, lembrando que são concorrentes. Aumentar a oferta de petróleo neste momento oferece o simbolismo contrário. Noruega, países árabes e a vizinha Guiana continuarão explorando petróleo. Por que não o Brasil? Porque nenhum tem as características que volto a repetir: matriz energética limpa, amplas possibilidades de sequestro de carbono e os biocombustíveis.

Não se trata de parar a Petrobras. Perfurar agora a margem equatorial enfraquece a posição brasileira. Um momento único onde precisamos liderar o difícil processo de transição energética. A prioridade precisa estar na redução das emissões de GEE. Mitigação, adaptação e mecanismos de apoio financeiro são relevantes, porém são medidas compensatórias às emissões existentes.

Ampliar neste momento a exploração da margem equatorial representa desestímulo aos nossos pontos fortes, os biocombustíveis, que têm nos fósseis seus grandes concorrentes, com claros efeitos em preços e investimentos. Explorar petróleo na Foz do Amazonas sinaliza o oposto do essencial para o sucesso de uma COP.

TENDÊNCIAS / DEBATES

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.



Fonte ==> Folha SP

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