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Atualização da NR-1 e a saúde mental sustentável nas empresas – 30/04/2025 – Opinião

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A partir deste mês, os riscos psicossociais como assédio moral, assédio sexual, violência, sobrecarga, baixa autoestima, falta de apoio social e insegurança no trabalho passam a integrar a norma regulamentadora nº 1 do Ministério do Trabalho. A NR-1 existe desde os anos 1970, e as inclusões previstas para este ano têm como objetivo tornar obrigatórias a identificação e gestão desses fatores pelas empresas, promovendo a saúde mental e o bem-estar no ambiente laboral.

A atualização da NR-1 pode ser entendida como uma resposta urgente a essa crescente preocupação. De acordo com dados do Ministério da Previdência Social, em 2024, comparado ao ano anterior, as licenças médicas concedidas atingiram 472.328 casos —um aumento de 68%, sendo a maioria das licenças de mulheres, com uma média de idade de 41 anos. Diante desse cenário, a mudança na norma busca promover um ambiente de trabalho mais seguro e saudável.

Essa política afirmativa é extremamente positiva. Devemos considerar que a atualização da NR-1 representa um passo importante em direção à saúde mental sustentável dentro das empresas. No entanto, é importante destacarmos que a implementação dessa medida exige cuidado e reflexão.

É fundamental que as ações relacionadas à saúde mental dentro das empresas sejam bem planejadas e adaptadas à realidade de cada organização. Para a política ser bem-sucedida, é necessário que o tema seja encarado como uma prioridade estrutural, sem ser oposto à produtividade. Isso porque muitas vezes existe um estigma de que o cuidado com a saúde mental é incompatível com as entregas e os resultados esperados nas empresas.

Por isso, saúde mental versus desempenho precisa ser repensado. Não devem ser assuntos contrapostos. Pelo contrário: é possível que a saúde mental seja um facilitador importante para resultados sustentáveis. Em um mundo ideal, a gangorra do trabalho deveria equilibrar pausas e entregas, com a saúde mental na base desse processo.

Após anos de experiência trabalhando com atletas de alto desempenho, vejo na prática que é possível atingir metas desafiadoras e ter um desempenho elevado sem comprometer a saúde mental.

Nesse contexto, vale destacar que as lideranças exercem papéis fundamentais. Porque dentro das empresas a saúde mental é algo piramidal, construída de cima para baixo. Portanto, os líderes precisam estar emocionalmente bem e preparados para garantir que o restante da equipe também esteja. As lideranças, sobretudo as mais altas, precisam entender que cuidar da sua saúde mental e dos seus liderados é garantir que o capital humano seja preservado e que os ambientes sejam facilitadores de inovação e engajamento. Elementos essenciais nos novos tempos e para as novas gerações.

Preparar as lideranças significa cuidar delas, dar as condições para que se desenvolvam e se humanizem no processo para que possam passar isso adiante. Do contrário, podem se sentir sobrecarregadas com a nova responsabilidade e, consequentemente, repassar essa pressão para as equipes. Isso pode gerar um ciclo de cobrança excessiva, levando a medida para a contramão do esperado.

Por isso, para que a inclusão dos riscos psicossociais na NR-1 não se torne apenas um requisito formal, é imprescindível que as empresas criem estruturas exclusivas dedicadas ao cuidado da saúde mental dos colaboradores, com comitês formados por profissionais especializados no tema, comprometidos em pensar as melhores ações e encaminhamentos.

Núcleos dentro das companhias compostos de psicólogos e psiquiatras capacitados para acompanhar diariamente e intimamente cada profissional. Esses comitês devem ter a autonomia para tocar o assunto da maneira mais sensível e assertiva possível.

O caminho para o sucesso da medida é uma abordagem estruturada e consciente. É essencial que as empresas não apenas cumpram a exigência legal, mas que integrem a saúde mental de maneira estratégica em seus processos e cultura organizacional.

Construir um ecossistema que promova de fato uma mudança de mentalidade em busca de um ambiente de trabalho mais equilibrado, sustentável e eficiente.

TENDÊNCIAS / DEBATES

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.



Fonte ==> Folha SP

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