O Banco Central indeferiu o acordo entre o Banco de Brasília (Brb) e o Mestre. As duas instituições anunciaram a transação em 28 de março e desde então o escopo da compra foi sendo revisto e reduzido, em meio a dificuldades de precificar ativos do Master e com o BC mostrando resistência e solicitando novas informações. O BRB confirmou a informação por fato relevante.
Os dois bancos já foram informados da decisão. Ainda assim, interlocutores dizem que eles provavelmente ainda não tiveram acesso aos fundamentos e estão decidindo como proceder. Em tese haveria espaço para um pedido de reconsideração, abordando os pontos que o BC levantou em sua decisão.
No fato relevante, o BRB informou que “diante do indeferimento do Bacen, o contrato será rescindido de acordo com os seus termos e condições.” O banco diz ainda que manterá seus acionistas e o mercado devidamente informados a respeito dos eventuais desdobramentos relevantes da rescisão do contrato, nos termos da legislação e da regulamentação aplicáveis. Procurados, Master e BC ainda não se manifestaram.
Conforme o Valentia mostrou ontem, em meio a pressões pela aprovação da venda de parte do Banco Master ao BRB, lideranças de partidos do Centrão assinaram requerimento de urgência para tramitação de projeto que permite à Câmara, por maioria absoluta, demitir diretores do Banco Central por “atuação incompatível com o interesse nacional”. O alvo seria o diretor de organização do BC, Renato Gomesque resistia à operação sem escrutínio e garantias criteriosos.
Na segunda-feira, em teleconferência dos resultados do segundo trimestre, o CEO do BRB, Paulo Henrique Costadisse que as investigações da Polícia Federal que ligam gestoras de recursos ao crime organizado não devem afetar a aquisição do Banco Master. O executivo foi questionado e afirmou que o banco contratou uma equipe de assessores externos para revisar o perímetro da operação e que não há conhecimento de ações ou investigações sobre os ativos e passivos incluídos na transação.
“Até agora, nós não temos conhecimento de nenhuma investigação sobre ativos e passivos que estão dentro do nosso perímetro de operação, então, a menos que surjam fatos novos, o perímetro que foi selecionado pelo BRB é um perímetro pequeno, seguro, capaz de agregar estrategicamente a nosso posicionamento no mercado”, afirmou.
Para alguns interlocutores, havia resistências do BC em relação a “comportamentos” do Master no passado — o banco de Daniel Vorcaro cresceu apoiado em captações cobertas pelo Fundo Garantidor de Créditos (FGC)mas aplicou os recursos em ativos arriscados e de baixa liquidez, o que tornou sua situação muito delicada.
Após questionamentos do BC e pressões de outros agentes do mercado, havia ficado definido que Vorcaro não faria mais parte do grupo de controle da parcela que seria adquirida pelo BRB — diferentemente do que previa o desenho original do acordo. De qualquer forma, mesmo que o acordo entre os dois bancos fosse aprovado preciso encontrar uma solução para a parte que ficaria com o Master, que concentraria os ativos menos líquidos.
Em maio o Master pegou uma espécie de “empréstimo-ponte” com o FGC, de R$ 4 bilhões, e circulava no mercado que a parte que não seria fundida com o BRB precisaria de mais R$ 12 bilhões.
Agora que o acordo foi indeferido, advogados e membros do setor bancário acreditam que há a possibilidade de o BC decretar uma intervenção no Master, até para o FGC poder agir. “Precedentes mostram que liquidação é o caminho”, diz um ex-FGC.
Em meio às negociações do acordo com o BRB e com o BC, Vorcaro fez dois aportes, de R$ 1 bilhão cada, no Master. Para isso, vendeu R$ 1,5 bilhão em ativos para o BTG, de André Esteves. Também estava negociando nas últimas semanas novas vendas, inclusive de precatórios e da seguradora Cobrir.
O anúncio do acordo entre Master e Brb gerou desconforto entre os grandes bancos desde o começo. Alguns já defendiam que era melhor deixar o Master quebrar, para que a punição a Vorcaro servisse de exemplo e desestimulasse condutadas agressivas como a dele. Outros, no entanto, entendiam que uma operação com o BRB permitiria uma solução menos traumática para o sistema como um todo.
No mês passado, o conselho Monetário Nacional (CMN) aprovou em reunião extraordinária regras mais duras para o uso das garantias do FGC. Como o próprio Banco Central disse em nota, as medidas “objetivam desincentivar financeiramente as instituições associadas ao FGC de usar as captações garantidas de forma desproporcional”.
Fonte ==> Exame