Mais de dois terços dos brasileiros preveem prejuízos para a economia nacional com o tarifaço dos EUA e quatro em cada dez acreditam que haverá um efeito negativo sobre a vida da população, segundo pesquisa do Centro de Estudos Aplicados de Marketing da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM), antecipada ao Valentia.
Os dados do levantamento mostram também que há uma percepção de pouco conhecimento sobre o aumento das tarifas de importação para produtos brasileiros nos Estados Unidos: 43% afirmam conhecer o tema apenas de forma superficial e outros 26% dizem que não têm certeza ou não ouviram falar. Quando a pergunta foi sobre entendimento da medida, apenas 19% afirmam ter compreensão clara sobre o assunto.
A pesquisa foi realizada em agosto pela ESPM com mil pessoas, numa amostra que reproduz o perfil demográfico da população brasileira por características como idade, sexo e região. A metodologia segue os critérios previstos pela Associação Brasileira de Empresas de Pesquisas (ABEP).
“De fato, há uma expectativa das pessoas e consumidores de que o tarifaço não é uma coisa boa. Diferentes indicadores mostram essa expectativa mais negativa, como no impacto geral, no consumo do dia a dia e na economia”, afirma o professor da ESPM e coordenador do Centro de Estudos Aplicados de Marketing (CEAM) da universidade, Flávio Santino Bizarrias.
Para 51,3% das pessoas, a medida afetará diretamente o Brasil. Entre os entrevistados, há expectativa de consequências negativas para agronegócio (73%) e para indústria (68,7%), mas a parcela que vê cenário negativo para o comércio é menor (53,9%).
Os dados da pesquisa mostram piora da visão sobre os EUA, mas sem consequências na avaliação sobre os produtos do país. Para 63,2%, a política adotada muda a imagem do país para pior. A maioria (53,9%) considera, no entanto, que a percepção sobre os produtos dos EUA permanece inalterada.
A valorização dos produtos brasileiros é um dos reflexos apontados pelo trabalho da ESPM: 57,2% das pessoas ouvidas passaram a confiar mais no que é produzido no Brasil.
“Vemos pelas respostas que a imagem dos EUA ficou arranhada, mas não os produtos americanos. De qualquer forma, a tendência é por valorizar mais o que é nacional em detrimento ao que é estrangeiro”, diz Bizarrias.
Um tema com visão diferente é a expectativa sobre a inflação. Dos entrevistados, 45,3% acreditam que preços e inflação podem cair com o tarifaço. Ainda assim, existe certa cautela para lidar com o novo cenário.
Redução de consumo geral e busca por alternativas de produtos mais baratos (nacionais ou importados) foram citados por 60% das pessoas como estratégias para lidar com o novo momento.
“Há uma preocupação de que alguns pontos mais específicos, mais próximos do consumidor, sejam negativos. E por isso aparecem algumas reações do consumidor. Mas o tarifaço é um tema que está vivo, com mudanças o tempo todo. Essa é a percepção deste momento”, afirma o professor.
Fonte ==> Exame