A Autoridade do Canal do Panamá está planejando construir um oleoduto paralelo ao canal para transportar gás liquefeito de petróleo (GLP) produzido nos Estados Unidos para embarque rumo à Ásia, uma medida projetada para aliviar o congestionamento no canal.
O GLP será carregado e descarregado por meio de terminais em ambas as extremidades do oleoduto para transferência do Oceano Atlântico para o lado do Pacífico, por meio de um sistema de retransmissão com dois navios. O governo panamenho pretende iniciar a construção em 2027, com o processo de licitação previsto para começar ainda este ano.
O oleoduto de 76 quilômetros custará entre US$ 4 bilhões e US$ 8 bilhões, segundo estimativa do governo. Espera-se que ele seja capaz de transportar até 2,5 milhões de barris por dia.
De acordo com a Autoridade do Canal do Panamá, 95% do GLP que passou pelo canal entre 2019 e 2020 foi produzido nos Estados Unidos. A produção no país já está em expansão, e o governo do presidente Donald Trump, sob o slogan de “liberar a energia da América”, busca flexibilizar ainda mais as restrições à produção de combustíveis fósseis.
As exportações americanas de propano — um dos principais componentes do GLP — ultrapassaram 1,8 milhão de barris por dia em 2024, de acordo com a Administração de Informações de Energia dos Estados Unidos, marcando um recorde nos dados que remontam a 1973. O propano é produzido ao longo da Costa do Golfo, em estados como Texas e Louisiana, e exportado para atender à crescente demanda em países asiáticos, incluindo China, Índia e Filipinas.
Mesmo com o aumento da demanda por transporte de GLP, a Autoridade do Canal do Panamá foi forçada a restringir a passagem de navios pelo canal devido à seca em 2023 e 2024. Os navios superam a diferença de nível de 30 metros no canal usando água de um lago artificial. No entanto, a falta de chuvas durante a estação chuvosa de 2023 reduziu o nível da água, forçando o canal a cortar o número de travessias em até 30% em determinado momento.
A conclusão do oleoduto eliminaria a necessidade de grandes navios transportadores de GLP passarem pelo canal. Isso beneficiaria não apenas as empresas de transporte de GLP, mas também outras companhias de transporte marítimo, reduzindo os tempos de espera e a necessidade de pagar uma alta taxa adicional para ter prioridade na fila. Uma reunião informativa sobre o projeto, realizada na Cidade do Panamá em setembro, contou com a presença de representantes da Exxon Mobil e da Shell, bem como da Energy Transfer — uma empresa americana com experiência na operação de oleodutos — e de tradings japonesas.
O traçado específico do oleoduto ainda não está definido, mas a expectativa é que ele passe por terrenos não utilizados pertencentes à Autoridade do Canal do Panamá, ao longo do canal. Infraestruturas importantes, como energia elétrica, estradas e comunicações, já estão disponíveis na região, o que permitirá a redução de custos.
“Devemos aproveitar esta oportunidade para manter a importância do Panamá no comércio internacional”, disse o administrador da Autoridade do Canal do Panamá, Ricaurte Vasquez Morales, à mídia local.
O oleoduto também é visto como um desenvolvimento positivo para os Estados Unidos. “Sob a atual administração americana, os produtos energéticos são sempre uma alta prioridade”, afirmou Vasquez.
Por volta da época de sua posse, em janeiro, Trump ameaçou retomar o controle do Canal do Panamá. O governo panamenho está tentando resolver problemas de uma forma que esteja alinhada com os desejos do presidente americano.
A CK Hutchison Holdings, uma empresa de Hong Kong que opera os portos em ambas as extremidades do canal e cujas conexões com a China foram um dos motivos pelos quais Trump mirou o canal, está buscando vender seus direitos de operação dos portos, a contragosto do governo central chinês.
Fonte ==> Exame