A prática de esportes é importante para a saúde de qualquer pessoa. No entanto, tragédias acontecem. Foi o caso da 40ª edição da Maratona Internacional de Porto Alegre, no sábado (7), quando o jovem João Gabriel De Lamare, de apenas 20 anos, sofreu um mal súbito na reta final da meia-maratona (21 km) e faleceu em frente ao Museu Iberê Camargo, próximo à linha de chegada, na altura do Barra Shopping Sul.
O cardiologista e coordenador do Centro de Fisiologia Humana e Metabolismo da Pucrs, Rodrigo Bodanese, explica que, costumeiramente, para gerar um mal súbito, “há alguma cardiopatia ou alguma doença cardiovascular pré-estabelecida, mas que muitas delas não são previamente diagnosticadas”. E ainda que os sintomas sejam variados, em alguns casos eles não aparecem previamente, apenas no evento que culmina na morte.
Em outros casos, há o aviso do corpo sobre algo que pode escalonar. Dores no peito, cansaço exacerbado em atividades físicas corriqueiras, sensação de desmaio e visão turva são os principais sintomas, alerta o médico. E por isso é tão importante os cuidados preventivos por meio de testes e exames no consultório.
Também é necessário entender que as causas são variáveis e a idade é um fator determinante. Na literatura internacional, é traçada uma linha nos 35 anos. Bodanese conta que as pessoas abaixo desta faixa-etária chegam a0 óbito em casos de mal súbito principalmente por conta de doenças hereditárias. A cardiomiopatia hipertrófica e a cardiomiopatia arritmogênica são as duas principais formas.
Em pacientes acima dos 35 anos, que cada vez mais estão voltados à prática esportiva por meio da popularização da corrida, por exemplo, as doenças coronarianas — condição em que as artérias que fornecem sangue ao coração se estreitam ou bloqueiam — são a principal causa de mortes súbitas.
O processo de prevenção é indicado para qualquer atleta. E ainda que não haja nenhuma obrigatoriedade de exames para estar qualificado aos percursos da maratona (42,195 km), meia-maratona (21.097 km), 10 km e 5 km, o profissional alerta para a importância do ato: “É preciso ter uma avaliação médica em que se faça uma pesquisa de histórico familiar, se tem alguém que já teve morte súbita, infarto muito cedo ou uma história de coração grande, que pode ter uma miocardiopatia, que são hereditárias”. O cardiologista destaca que, muitas vezes, o paciente que não faz nenhum esporte e não tem nenhum sintoma pode ser diagnosticado apenas mais tarde na vida.
Nos megaeventos que são as maratonas internacionais, Bodanese entende que há o que melhorar nas questões logísticas de primeiros socorros. “Uma das dificuldades é que o mal súbito precisa ser diagnosticado. Então alguém precisa parar, ver que o paciente está desacordado e sem pulso. Também é preciso ter as manobras de ressuscitação e o que salva essas pessoas geralmente é a presença de um desfibrilador”, relata. Em uma prova tão longa, o cardiologista indaga sobre como ter vários desfibriladores à disposição e com acesso rápido. Ele entende que é uma questão de logística mais complexa, a ser discutida pelas organizações.
A diretora médica da Maratona Internacional de POA, Ana Sierra, explica que foram disponibilizadas oito ambulâncias no sábado e 13 no domingo. O tempo de resposta para cada chamado era de três a cinco minutos. O que ela destaca é a necessidade de aprimorar os chamados. Coordenados do local, os corredores receberam uma identificação através de uma pulseira e, também, um qr code com os dados da médicos da pessoa para um atendimento personalizado.
Sobre as mudanças para as próximas edições, ela entende que o principal está na atitude das pessoas. Sierra destaca que já viu atestados apresentados em corridos prescrevidos por ginecologistas, urologistas e dermatologistas, indicando uma falta de interesse em um diagnóstico preciso. “Seria interessante que fosse pedido atestado, mas não sei se isso ia resolver a situação, acho que precisamos mudar a cultura do brasileiro. Entender que o exame é importante”.
A médica destaca que, quando implantada a avaliação prévia na Europa, o número de mortes de jovens no esporte diminuiu drasticamentee a sequência das avaliações foi ainda mais positiva para diagnósticos que não apareceram em um primeiro momento.
Fonte ==> Folha SP