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Cebas fortalece organizações da sociedade civil – 09/06/2025 – Papo de Responsa

A imagem mostra um grupo de pessoas trabalhando em um caminhão, descarregando pacotes de alimentos. Algumas pessoas estão dentro do caminhão, enquanto outras estão do lado de fora, organizando os pacotes. Todos estão usando camisetas pretas e parecem concentrados na tarefa. Os pacotes têm a marca

Em um cenário em que as OSCs (organizações da sociedade civil) são chamadas a desempenhar papéis cada vez mais relevantes na garantia de direitos e na oferta de serviços essenciais, qualificações como a Certificação das Entidades Beneficentes de Assistência Social (Cebas) assumem importância estratégica.

Uma certificação que não apenas viabiliza benefícios fiscais, mas também qualifica a atuação institucional das entidades em áreas como saúde, assistência social e educação.

As vantagens do Cebas são concretas: reconhecimento da imunidade às contribuições sociais (como cota patronal do INSS, PIS/Cofins e Contribuição Social sobre Lucro Líquido), acesso prioritário a parcerias com o poder público e maior credibilidade junto a financiadores, órgãos de controle e à sociedade em geral.

No entanto, a obtenção e a manutenção da certificação demandam um nível elevado de comprometimento com a conformidade legal, monitoramento de resultados e transparência na gestão.

Cada área tem exigências específicas. Na educação, por exemplo, é necessário conceder bolsas a um determinado público e em proporção definida em lei. Já na saúde, a atuação deve estar pactuada com o SUS (Sistema Único de Saúde).

Na assistência social, o foco deve ser a atuação de modo gratuito, contínuo, permanente e planejado no atendimento ou assessoramento, defesa e garantia de direitos em linha com o SUAS (Sistema Único de Assistência Social). Isto está definido na lei complementar 187/2021, no decreto que a regulamenta e nas portarias setoriais dos ministérios, trazendo uma complexa regulação para as OSCs.

Esses requisitos, somados à necessidade de relatórios, controle de metas e documentação rigorosa, impõem às organizações um esforço de adequação e conformidade que envolve desde o corpo técnico até os setores administrativos, contábeis e jurídicos.

Isso leva a uma reflexão: o Cebas garante de fato a sustentabilidade financeira das OSCs? A resposta depende da maturidade institucional de cada entidade. Em muitos casos, o processo de certificação exige mudanças estruturais nas rotinas e na cultura organizacional.

É preciso estabelecer fluxos de informação consistentes, investir em controle de dados, capacitar equipes e alinhar todos os setores, do atendimento direto ao financeiro, para que compreendam que cada ação pode ter impacto tributário e regulatório.

Apesar do desafio, esse movimento, quando feito de maneira consistente, representa a institucionalização de boas práticas, o fortalecimento da governança e a adoção de critérios que ajudam a demonstrar, de forma objetiva, o impacto social gerado pelas OSCs.

Uma organização certificada com o Cebas deve ter este tema tratado como prioridade dentre seu mapa de riscos e suas ações de governança e compliance.

Outro aspecto importante é que a certificação estimula um alinhamento mais direto com as políticas públicas da área de atuação. Ao exigir, por exemplo, a integração com o SUS, o Cebas incentiva as organizações a operarem de forma complementar, e não paralela, ao Estado.

Isso reforça a vocação das OSCs como parceiras estratégicas na construção de soluções coletivas, sobretudo em territórios marcados por desigualdades e fragilidades institucionais.

Naturalmente, há desafios. A legislação aplicável é extensa e sujeita a interpretações. Os processos administrativos podem ser longos, e os critérios, por vezes, difíceis de cumprir para organizações de menor porte.

Por isso, é essencial que o Cebas venha acompanhado de um olhar interdisciplinar e assessoria jurídica especializada visando, principalmente, à internalização de uma cultura de responsabilidade institucional.

O Cebas deve ser visto como um selo de compromisso com a missão institucional e com a entrega de valor social real. É preciso que o próprio Estado fortaleça os mecanismos de orientação e simplificação, e que as organizações se apropriem cada vez mais desse instrumento como uma alavanca de fortalecimento institucional e de reconhecimento público.

Mais do que uma certificação, o Cebas é um convite à profissionalização, transparência e afirmação do terceiro setor como pilar essencial na promoção dos direitos sociais. Cabe a nós, operadores do Direito, gestores e dirigentes de OSCs assegurar que esse processo se desenvolva com eficiência, coerência e justiça.



Fonte ==> Folha SP

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