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Cientistas usam células da pele para gerar óvulos – 30/09/2025 – Ciência

Imagem microscópica em preto e branco mostra uma célula redonda sendo manipulada por uma micropipeta à esquerda e uma microagulha fina à direita

Cientistas adaptaram a tecnologia de clonagem para criar óvulos humanos a partir de células da pele e de um óvulo doado. A pesquisa, ainda em fase inicial, talvez possa um dia vir a ajudar mulheres com dificuldades para engravidar, permitindo que tenham filhos geneticamente relacionados a elas ao inserir o DNA delas em óvulos doados.

Pesquisadores da Universidade de Ciências e Saúde de Oregon (Estados Unidos) transferiram núcleos de células adultas para óvulos doados dos quais o núcleo havia sido removido. Em seguida, induziram essas células a se dividirem de uma maneira que eliminou metade de seus cromossomos —um rearranjo de DNA necessário para a fertilização.

“Além de oferecer esperança para pessoas com infertilidade devido à falta de óvulos ou espermatozoides, esse método traria a possibilidade de casais do mesmo sexo terem um filho geneticamente relacionado a ambos os parceiros”, afirmou a professora de obstetrícia e ginecologia Paula Amato, uma das autoras do estudo em que a técnica é descrita.

Ao relatar seus resultados em artigo que saiu nesta terça-feira (30) na revista Nature Communications, os pesquisadores enfatizaram que o estudo foi “uma prova de conceito e mais pesquisas são necessárias para garantir a eficácia e segurança antes de futuras aplicações clínicas”.

Shoukhrat Mitalipov, o líder do projeto, estimou em mais uma década o tempo de desenvolvimento necessário antes que o novo processo possa estar pronto para uso em clínicas de fertilidade.

“Os médicos estão vendo cada vez mais pessoas que não podem usar seus próprios óvulos, frequentemente devido à idade ou a condições médicas”, disse a professora de medicina reprodutiva Ying Cheong, da Universidade de Southampton (Reino Unido), que não esteve envolvida no novo estudo.

“Embora ainda seja um trabalho laboratorial muito inicial, no futuro ele poderia transformar nossa compreensão sobre infertilidade e aborto espontâneo, e talvez um dia abrir portas para a criação de células semelhantes a óvulos ou espermatozoides para aqueles que não têm outras opções”, acrescentou Cheong.

Várias equipes de pesquisa ao redor do mundo, entre as quais uma da empresa de biotecnologia americana Conception e outra de Katsuhiko Hayashi e colegas da Universidade de Osaka, estão trabalhando na gametogênese in vitro —criação de óvulos e espermatozoides em laboratório.

Os outros usam uma técnica diferente que não requer óvulos doados, fazendo células-tronco pluripotentes a partir da pele e depois tentando convertê-las em óvulos. Isso foi bem-sucedido com camundongos, mas ainda não produziu óvulos humanos maduros, segundo Mitalipov.

O sucesso da abordagem de clonagem de Mitalipov e seus colegas, transferindo o núcleo entre células maduras em vez de usar células-tronco, dependeu da obtenção de um novo tipo de divisão celular chamada mitomeiose.

“A natureza nos deu dois métodos de divisão celular e nós acabamos de desenvolver um terceiro”, disse Mitalipov.

Até agora, o processo é bastante ineficiente.

A equipe de Mitalipov produziu 82 óvulos funcionais que foram fertilizados com esperma por meio de FIV, porém só 9% se desenvolveram até o estágio de blastocisto, no qual os embriões seriam transferidos para estabelecer uma gravidez em uma clínica. Nenhum foi cultivado além desse ponto e não há evidências de que algum deles teria se desenvolvido em um feto saudável. Na reprodução natural, cerca de um terço dos novos embriões humanos se torna blastocisto.

“Ainda temos muito trabalho difícil pela frente para entender o intrincado processo pelo qual os cromossomos se pareiam e se separam para criar embriões saudáveis”, afirmou Mitalipov.



Fonte ==> Folha SP – TEC

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