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Como cientistas estão usando drones para estudar baleias – 15/08/2025 – Ciência

A imagem mostra a parte superior de uma baleia, com a pele visível e texturizada, emergindo da água. Acima da baleia, um drone está flutuando, equipado com câmeras e sensores. O fundo é composto por um céu claro e água azul, com algumas gotas de água sendo levantadas pela movimentação da baleia.

Nas águas ao largo de Dominica, no Caribe, um drone desce do céu em direção a um cachalote. O equipamento encosta rapidamente nas costas da baleia para fixar um sensor. As ventosas da etiqueta aderem à pele do bicho, permitindo, então, que o dispositivo grave o áudio desses mamíferos marinhos se comunicando.

A técnica, que os pesquisadores chamam de “tap-and-go” (toque e siga), é descrita em um estudo que saiu na revista PLOS One na última quarta (13). Os resultados demonstram que essa abordagem é um caminho para coletar dados científicos sem causar tanta perturbação às baleias.

“Esse é definitivamente o futuro”, disse o biólogo marinho Jeremy Goldbogen, da Universidade de Stanford (EUA) que não esteve envolvido na pesquisa. “É empolgante ver essas inovações.”

Já há algum tempo, cientistas recorrem a um método tradicional de marcação: uma pessoa fica na proa de um barco e utiliza uma vara de seis metros para fixar a etiqueta na baleia. Contudo, o ruído do barco e a proximidade com os animais podem estressá-los.

Esse método também exige muito tempo e coordenação, segundo o engenheiro de pesquisa Daniel Vogt, de Harvard, autor principal do estudo. “Sempre quisemos melhorá-lo.”

Os drones, por sua vez, permitem que os cientistas alcancem a baleia à distância e mais rapidamente. “Queremos reduzir o distúrbio ao animal enquanto melhoramos a qualidade dos dados que coletamos”, afirmou Vogt.

Nos últimos anos, drones vêm mudando a forma de estudar esses animais. Eles podem identificar e medir espécimes, comparar seu comportamento na superfície do mar e até coletar amostras biológicas. Ao voar através das nuvens de vapor, ou “sopro”, que as baleias emitem quando vêm à superfície para respirar, os equipamentos também coletam informações sobre genética, hormônios e microbiomas.

Cientistas já experimentaram o uso de drones para lançar etiquetas de uma altura de nove metros nas costas das baleias-de-Rice, uma espécie que diminuiu para menos de cem indivíduos. Outros grupos já lançaram etiquetas em baleias-azuis e baleias-fin de uma altura menor. As etiquetas se fixam com ventosas e a pressão resultante do mergulho da baleia.

O método toque e siga leva essa ideia um passo adiante.

É uma “forma nova e criativa de aproveitar o que um drone pode fazer”, afirmou o ecologista Ari Friedlaender, da Universidade da Califórnia, em Santa Cruz, que não esteve envolvido no estudo. “Isso nos dá uma chance muito melhor de ter sucesso.”

Vogt e sua equipe desenvolveram drones que resistem à água salgada, correntes de vento e mares agitados.

Para testá-los, os pesquisadores conduziram testes em cachalotes, que podem medir até 18 metros de comprimento e mergulhar profundamente. De um mergulho de 45 minutos, essa espécie passa cerca de oito minutos na superfície, então marcar um indivíduo no momento certo não é uma tarefa fácil.

De 20 tentativas de marcação, mais da metade se mostrou bem-sucedida. Toda a operação, desde o alinhamento do drone com a baleia até a implantação da etiqueta, levou menos de sete minutos.

Os sensores podem ser usados para estudar padrões de caça das baleias, acústica e até interações sociais.

Até o momento, as etiquetas têm sido ferramentas bem-sucedidas para estudar muitas espécies de grandes baleias, entre as quais cachalotes, baleias-azuis e baleias-jubartes. Eles são projetadas para coletar dados por horas ou dias antes de se desprenderem automaticamente dos bichos. Os pesquisadores então recuperam os dispositivos usando telemetria ou sistemas de mensagens via satélite.

Com o método, Vogt espera que ele e sua equipe possam fixar mais etiquetas e gravar mais áudio. Ele é membro do Projeto CETI (iniciativa de tradução de cetáceos), que investiga se a inteligência artificial pode ajudar a decodificar as canções de baleias. Com isso, a iniciativa requer grandes quantidades de áudio.

“A abordagem baseada em vara ainda é relativamente não invasiva”, disse Goldbogen. Mas, segundo ele, o método com drone abre mais possibilidades para marcar espécies, como baleias-fin, que de outra forma seriam difíceis de acompanhar.

“Isso adiciona mais um método ao nosso vasto e diversificado conjunto de ferramentas para estudar grandes baleias no oceano aberto, o que é sempre um desafio.”



Fonte ==> Folha SP – TEC

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