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Confiar é um ato de transformação na filantropia – 06/08/2025 – Papo de Responsa

A imagem mostra várias pessoas com as mãos levantadas, em um gesto de apoio ou celebração. As mãos estão em destaque, com algumas usando pulseiras coloridas. Ao fundo, há uma estrutura que parece ser parte de um evento, com algumas marcas e o texto

Nos últimos anos, temos ouvido com mais frequência expressões como “filantropia baseada em confiança” e “fortalecimento institucional”. Mas o que essas ideias realmente significam quando falamos de um Brasil que vai além dos grandes centros?

Nosso país conta com mais de 5.000 municípios e uma imensidão de iniciativas sociais de base comunitária, coletivos e associações comunitárias que atuam na linha de frente da transformação. No entanto, uma parte expressiva dessas iniciativas segue invisível aos olhos dos grandes centros de investimento social.

Dados do Censo Gife 2022-2023 mostram que a maior parte dos financiadores ainda está concentrada no Sudeste, especialmente em São Paulo. Segundo levantamento do Instituto Phomenta e da Iniciativa Pipa, 95% das organizações entrevistadas relatam dificuldades de acessar financiamento.

A consequência? Um cenário de desigualdade também dentro da filantropia. Enquanto algumas organizações conseguem acessar editais com regularidade, outras realizam suas atividades com orçamentos mínimos, muitas vezes inferiores a R$ 5.000 por ano, mesmo atendendo centenas de pessoas.

Foi com esse olhar que o Movimento Bem Maior estruturou o programa Futuro Bem Maior, que desde 2019 já apoiou 166 organizações de 72 municípios brasileiros com recursos flexíveis, capacitação e acompanhamento técnico.

Em vez de ditar as regras, o diferencial do programa está na escuta ativa e no respeito à autonomia local. E os resultados têm nos ensinado muito.

Pesquisa realizada pelo Movimento Bem Maior com 84 organizações que passaram pelas três primeiras edições do programa revelou que 83,5% conseguiram dar continuidade aos seus projetos após o fim do apoio. Mais do que isso: 77% relataram fortalecimento da autoestima institucional, 76,1% melhoraram o atendimento ao público e 80% disseram ter conquistado mais visibilidade em suas comunidades.

Esses números confirmam uma tese simples, mas poderosa: organizações fortalecidas geram impactos mais consistentes e duradouros.

O exemplo da Associação Camará Capoeira, de Ponta Porã (MS), é emblemático. Com apenas R$ 2.400 do total de R$ 30 mil recebidos, a organização contratou uma consultoria para estruturar projetos com base em leis de incentivo. O resultado? Em 2024, captaram R$ 462 mil.

Essa virada não aconteceu por acaso: é fruto de uma abordagem que une investimento flexível com escuta qualificada e acompanhamento próximo. Ao receberem recursos que respeitam sua autonomia, as organizações conseguem identificar prioridades e construir soluções a partir da sua realidade.

Esses aprendizados nos desafiam a pensar uma nova lógica para a filantropia brasileira. Uma lógica que descentralize o acesso a recursos, reconheça a potência da base comunitária e abrace a diversidade territorial como parte da solução. Isso exige coragem para correr riscos, escutar com mais profundidade e confiar de verdade.

A transformação sistêmica que almejamos passa, necessariamente, pela democratização da filantropia. Não há inovação possível se continuarmos investindo apenas nos mesmos lugares, nas mesmas causas e com as mesmas ferramentas. O Brasil real está pulsando —e a filantropia precisa estar onde ele pulsa.



Fonte ==> Folha SP

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