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Consumidores querem serviço ‘sob medida’ em aplicativos de relacionamento, mas nem todos podem pagar por isso | Empresas

Consumidores querem serviço 'sob medida' em aplicativos de relacionamento, mas nem todos podem pagar por isso | Empresas

A busca por um relacionamento na era da internet virou um negócio bilionário. Entre aplicativos de encontro e serviços profissionais que prometem o “par ideal”, a estimativa é que, até 2027, esse mercado movimente US$ 8,7 bilhões globalmente, segundo dados da consultoria Statista. As plataformas tradicionais continuam sendo responsáveis pela maior parcela dessa receita, mas há sinais de esgotamento dos modelos atuais, abrindo espaço para serviços mais personalizados.

Além do impulso gerado pela pandemia, que intensificou o uso desses recursos devido ao isolamento social, outros fatores continuam sustentando essa tendência, como a crescente digitalização das interações sociais, a busca por praticidade e a dificuldade de conhecer pessoas no dia a dia.

No Brasil, quase 20% dos consumidores visitaram aplicativos de relacionamento semanalmente em 2025, ante 12% em 2021, aponta a pesquisa “Voice of the Consumer”, da Euromonitor International, coletada entre janeiro e fevereiro deste ano. O desempenho no país supera a média global, que é de 14,5%. Por outro lado, cada vez menos pessoas têm se mantido ativas nas plataformas ou estão dispostas a pagar por seus serviços.

“Depois da pandemia, os apps de namoro atingiram um platô. Houve redução de downloads e de receita porque, globalmente, existe uma certa estafa com essas plataformas”, diz Tiago Bianchi, especialista em internet e games na América Latina e Espanha da Statista.

Dados da consultoria mostram que, enquanto 13,8 milhões de brasileiros usaram serviços de namoro on-line gratuitos em 2023, apenas 2,9 milhões pagaram por funcionalidades — e a expectativa é que esse número não cresça.

Os resultados das principais empresas do mercado revelam sinais de esgotamento, especialmente entre os mais jovens. Até meados de 2022, a base de assinantes do Tinder só crescia, mas, desde então, essa tendência se inverteu e vem recuando. De acordo com a Business on Apps, o indicador registrou oito trimestres consecutivos de queda até agosto de 2024. Em resposta, o Match Group, empresa controladora do Tinder, chegou a cortar 6% da sua base global de funcionários no ano passado.

Procurado, o comando do Tinder afirma que não vê essa mudança como uma rejeição dos consumidores, mas como reflexo das novas expectativas por parte deles, especialmente entre a geração Z, que compõe a maior parte da base de usuários.

“Essa é uma geração que cresceu on-line, mas preza por conexões offline mais significativas. Eles estão navegando em uma cultura moldada por rápidas transformações, lacunas sociais pós-pandemia e pelo desejo por mais autenticidade”, disse a plataforma.

A empresa afirma que está constantemente transformando o produto para atender melhor os usuários. “No Brasil, descobrimos que 63% das mulheres já compartilhavam sua localização com alguém de confiança antes de um encontro. Por isso, aprimoramos esse comportamento com o lançamento da funcionalidade ‘Compartilhar Meu Date’, que foi especialmente bem recebida.” Outra novidade foi o modo ‘Double Date’, que permite que amigos se juntem em duplas e deem match com outras duplas.

Outro expoente do setor, o Bumble também vem enfrentando desafios na operação. Na semana passada, a companhia anunciou a redução de 30% de sua equipe, o que corresponde a 240 pessoas. Segundo a empresa, esse movimento resultará em economia anual de US$ 40 milhões. Desde sua listagem na Nasdaq, em 2021, os papéis do Bumble perderam cerca de 90% de seu valor.

“Os aplicativos não mudaram. Em geral, eles oferecem mais serviços e funcionalidades, mas a ideia por trás da maioria continua muito parecida”, avalia Bianchi.

Paralelamente, cresce o interesse por serviços de namoro personalizados, como os ‘matchmakers’, nos quais o cliente compartilha informações pessoais e descreve o perfil da pessoa que está buscando um profissional, que então assume a tarefa de encontrar parceiros compatíveis para relacionamentos sérios.

Fundada em 2010, a Three Day Rule é hoje uma das maiores empresas de ‘matchmaking’ dos Estados Unidos. Com um banco de 250 mil pessoas cadastradas e uma equipe de 65 especialistas em encontros, a companhia promete uma “abordagem mais humanista” na busca por um par.

“Nós pensamos em toda a jornada de um relacionamento”, disse Adam Cohen-Aslatei, CEO da Three Day Rule, em entrevista ao Valentia. “Ajudamos o cliente a se preparar para o amor, a encontrá-lo e, depois, a manter relacionamentos saudáveis por meio de ‘coaching’”, afirmou.

Os serviços da empresa podem custar de US$ 59 mil a US$ 100 mil, em média. A diferença de preços depende da duração e do que está incluído no pacote. A empresa não revela faturamento, mas a expectativa para este ano é de 30% a 50% de crescimento na receita.

Em outubro, será lançado o aplicativo da Three Day Rule, que utiliza Inteligência Artificial para impulsionar a combinações entre usuários, sendo uma alternativa mais acessível para quem quer usar o serviço sem gastar muito, segundo Cohen-Aslatei.

Por ora, a operação está concentrada nos EUA, mas há interesse em outros mercados, incluindo o Brasil. “Acabamos de ser procurados por um grande empresário brasileiro que quer levar a Three Day Rule para São Paulo. Teremos uma ligação com ele na próxima semana. Vamos ver como isso se desenrola”, afirmou o executivo.

Para o Tinder, o serviço personalizado não é uma ameaça aos aplicativos, e sim uma ferramenta complementar.

“Colaboramos com ‘matchmakers’ ao redor do mundo, que não apenas ajudam a entender como as pessoas usam o Tinder, mas também defendem os apps de namoro como uma parte importante da jornada afetiva atual. Nossa CMO (Chief Marketing Officer), Melissa Hobley, por exemplo, é uma ‘matchmaker’ na ‘vida real’, atuando ativamente com dezenas de solteiros ao redor do mundo”, disse a plataforma.

Recentemente, o tema ganhou destaque com o filme Materialists, da cineasta Celine Song, que estreia nos cinemas brasileiros em 31 de julho. A trama conta a história de Lucy (Dakota Johnson), uma “matchmaker” profissional que tem dificuldade de encontrar o amor em sua própria vida.

Song conta que buscou inspiração para a trama em sua trajetória, uma vez que já trabalhou como “matchmaker” por seis meses em Nova York, quando tinha 20 e poucos anos. “É uma coisa de luxo, ou seja, em vez de você mesmo ficar deslizando nas coisas e dando ‘feedback’ sozinho, você tem alguém para fazer isso com você”, disse a cineasta, em entrevista ao podcast Modern Love, do “The New York Times”.

Como Song destaca, o desenvolvimento desse mercado é diretamente influenciado por fatores macroeconômicos, como renda disponível e taxas de emprego. Em países ou regiões mais desenvolvidos, os indivíduos têm mais recursos e podem gastar em atividades e serviços relacionados a encontros casuais.

Por outro lado, populações com menos renda acabam tendo outras prioridades. “O ‘matchmaking’ começa a ter mais relevância agora, mas, pelo que vemos, ainda é um nicho”, afirma Bianchi, da Statista.



Fonte ==> Exame

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