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Costa norte em perigo – 17/08/2025 – Ruy Castro

Costa norte em perigo - 17/08/2025 - Ruy Castro

Há dias [11/8], chamei a atenção para uma entrevista de João Moreira Salles e Txai Suruí na Revista Brasileira, da Academia Brasileira de Letras, em que o documentarista observou que os americanos, em sua marcha para o oeste no século 19, devastaram o que encontravam —paisagem, búfalos, tribos inteiras. Mas, ao fim e ao cabo, foram tão colonizados pela paisagem que a recuperaram e criaram para ela uma fabulosa representação simbólica, inclusive no cinema, com os filmes de faroeste. Nós, aqui, continuamos empenhados na devastação, só que rumo ao norte e sem a menor preocupação sobre o que nos resta —ou não nos resta— pela frente.

Um livro magnífico, “Costa Norte” (Edições Sesc), recém-lançado, é a prova do que ainda temos e que corremos o risco de perder. São quase 200 páginas de beleza natural e humana, capturada pelo fotógrafo João Farkas em imagens de tirar o fôlego. O cenário são os 2.200 quilômetros da faixa litorânea brasileira entre o Amapá e o Rio Grande do Norte, abrigando rios, lagoas, lagunas, ilhas, praias, dunas, manguezais. Uma vastidão em dimensões amazônicas —assim como é também amazônico o desinteresse dos centros do poder sobre esta região que atrai uma ocupação ecocida, criminosa em todos os sentidos.

O livro custou a Farkas sete expedições, durante quatro anos de viagens por terra, mar e sobrevoo. As fotos, de tão belas, já bastariam por si, mas são entremeadas com textos de alerta sobre cada cenário.

No posfácio, Fernando Gabeira se pergunta se o extraordinário trabalho de um fotógrafo poderá salvar aquelas maravilhas. Ele próprio responde que não. Isso não compete aos artistas, mas aos responsáveis. Até quando será possível admirar a revoada dos guarás? Até quando as picapes (hoje, 400 por dia) continuarão a revolver os Lençóis Maranhenses? Até quando se permitirá que o turismo deprede?

Um dia, num futuro talvez não muito distante, vamos folhear o livro de Farkas e nos perguntarmos como foi que deixamos tudo aquilo se perder.



Fonte ==> Folha SP

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