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Crédito digital: como o guru cripto Michael Saylor quer reinventar o mercado de capitais com Bitcoin | Criptomoedas

Crédito digital: como o guru cripto Michael Saylor quer reinventar o mercado de capitais com Bitcoin | Criptomoedas

O entendimento de que o Bitcoin inaugurou uma nova era nas finanças globais e uma nova forma de capital abriu espaço para um movimento paralelo: o desenvolvimento de instrumentos financeiros com lastro integral no criptoativo. No centro dessa inovação está o guru cripto Michael Saylor, fundador da Strategy, nos EUA, que apresentou ontem, no OranjeBTC Summit 2025, em São Paulo, sua visão sobre o que chama de crédito digital.

Saylor é o responsável por popularizar a estratégia das Bitcoin Treasury Companies: empresas listadas em bolsa que compram Bitcoin para incorporá-lo ao caixa ou à tesouraria, buscando gerar valor para o próprio negócio e para seus acionistas. Essa lógica foi adotada por duas companhias brasileiras, listadas na B3, a Méliuz (CASH3) e a OranjeBTC (OBTC3).

O que é crédito digital, segundo Saylor

No Summit, por videoconferência, Saylor descreveu o crédito digital como uma ruptura em relação ao crédito tradicional, geralmente lastreado em ativos do “Século XX”, como imóveis, fluxo de caixa corporativo ou dívida. O ponto central é a troca do colateral — a garantia que sustenta um empréstimo ou instrumento financeiro — por Bitcoin, tratado por ele como “capital digital”.

A lógica funciona assim:

  • a garantia deixa de ser física e passa a ser um ativo digital escasso (o Bitcoin);
  • o instrumento financeiro paga dividendos mais altos que títulos corporativos comuns;
  • e, no sistema americano, pode ter tratamento tributário diferenciado.

Para ilustrar, Saylor comparou um título típico de empresa, que paga cerca de 4% ao ano, com os instrumentos de crédito digital da Strategy, que oferecem dividendos de 10% ao ano, classificados como retorno de capital — o que, nos EUA, adia a tributação. Lembrando aqui que essas taxas de retorno, no mercado americano, são bastante atrativas.

“Crédito digital é uma nova classe de ativos, lastreada em capital digital. O objetivo é maximizar o fluxo de caixa para o investidor”, afirmou.

Os instrumentos criados pela Strategy

A Strategy lançou uma série de valores mobiliários negociados na Nasdaq (como STRK, STRD e STRC), que operam de forma semelhante a ações preferenciais sem prazo de vencimento. Como esse formato não existe no mercado brasileiro, um paralelo possível seria algo como um título sem vencimento, que paga de dividendos recorrentes, negociável em bolsa e cujo lastro é o volume de Bitcoin acumulado pela própria empresa.

Na prática, como explicou Saylor, essas emissões financiam a ampliação das reservas de BTC da Strategy. A captação gera caixa; o caixa compra Bitcoin; o ativo valoriza o balanço; e o balanço fortalecido facilita novas emissões — um ciclo que, no entanto, tem sido descrito por analistas internacionais como uma “pirâmide de capital” no sentido técnico-financeiro, não fraudulento.

Saylor defende que esses instrumentos financeiros são a forma mais eficiente para empresas que desejam manter Bitcoin por longos ciclos — que é a lógica do investimento de longo prazo que os especialistas defendem categoricamente para as criptos.

Segundo ele, estruturas curtas criam riscos sistêmicos, enquanto instrumentos sem vencimento permitem casar a “duração” da fonte de financiamento com o horizonte de investimento no Bitcoin.

Inovação ou risco elevado?

Recentemente, muitos veículos internacionais especializados em finanças, como Fortune, Financial Times, Reuters, e Bloomberg, têm abordado o tema, reconhecendo a inovação financeira, mas apontando riscos importantes na estratégia da Strategy.

As críticas destacam principalmente a dependência total da valorização do Bitcoin e o que alguns chamam de “alavancagem indireta”, já que novas emissões ampliam a exposição ao BTC. Além disso, os dividendos de dois dígitos, segundo as reportagens, são raros no mercado tradicional e associados a maior risco.

Há ainda quem questione a própria arquitetura de emissões de papéis sequenciais, classificada como uma “pirâmide de capital” que funciona melhor quando há entrada contínua de recursos. Além disso, há dúvidas regulatórias, já que instrumentos semelhantes não existem em várias jurisdições e poderiam não ser replicáveis ​​fora dos EUA.

Mesmo com críticas, a estratégia da Strategy tem chamado a atenção porque transforma Bitcoin em um ativo gerador de fluxo de caixa e oferece ao investidor uma nova alternativa para adentrar ao mercado cripto com exposição indireta ao ativo, ao comprar as ações das empresas.

No Summit, Saylor afirmou que as empresas que se tornarem “campeãs nacionais” — isto é, as maiores detentoras de Bitcoin em cada país — terão vantagem estrutural em seus mercados locais.



Fonte ==> Exame

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