Search
Close this search box.
Search
Close this search box.

Decisão final – 21/03/2025 – Hélio Schwartsman

Decisão final - 21/03/2025 - Hélio Schwartsman

Daniel Kahneman, um dos seres humanos que mais a fundo estudou as decisões humanas, decidiu pôr fim à própria vida numa clínica na Suíça, cerca de um ano atrás.

Essa informação, embora não fosse segredo, não foi divulgada ao público quando do anúncio da morte. Kahneman não queria virar garoto-propaganda das clínicas de suicídio assistido. Mas enviou a dezenas de amigos próximos um e-mail explicando as razões de sua decisão. Pedia que não comentassem o caso “por alguns dias”.

A história só chegou à imprensa na semana passada, quando Jason Zweig, ele próprio um amigo, publicou um ótimo artigo em The Wall Street Journal.

É relativamente fácil angariar apoio para o suicídio assistido e a eutanásia em casos de pacientes terminais, especialmente se estiverem passando por um quadro de dor crônica. Não era essa a situação do prêmio Nobel de Economia. Ele havia completado 90 anos, mas não padecia de nenhuma moléstia grave e a mente permanecia afiada o bastante para ele seguir trabalhando em vários papers.

Em resumo, ele estava ficando velho, embora ainda gozasse de uma vida plena. Mesmo assim, decidiu que já era hora —imagino que, se o caso tivesse ocorrido no Brasil, algum parlamentar do PSOL processaria o espólio por etarismo.

Para Kahneman, provavelmente prevaleceu o cálculo hedônico. O futuro seria pior que o presente, e o tempo de boa vida de que ele ainda poderia dispor (que não seria longo) não valia o risco de perder o controle sobre as coisas. Reuniu a família, tiveram ótimos dias de despedida em Paris e ele foi para a Suíça onde apertou o botão.

É óbvio que ninguém precisa imitar Kahneman. Contas hedônicas são pessoais e intransferíveis. Cada um deve fazê-las considerando suas tolerâncias, preferências e valores. Foi provavelmente por isso que ele não quis fazer alarde de seu caso.

O ponto fundamental, creio, é que cabe a cada indivíduo, não ao Estado, a vizinhos e nem mesmo a amigos e à família, decidir se quer ou não tomar as rédeas do processo.



Fonte ==> Folha SP

Relacionados