A pauta da diversidade e inclusão está em crise dentro das companhias. Um dos motivos para isso foi a eleição de Donald Trump para reassumir a presidência dos Estados Unidos.
Contrário à agenda, ele tem influência sobre diversas empresas que resolveram parar com a estratégia de fomentar a diversidade no ambiente de trabalho.
O momento de recuo era esperado pela maneira de fazer política do presidente norte-americano, mesmo ciente do retrocesso. A crise atual em torno de DEI (sigla para diversidade, equidade e inclusão) não é nova.
Ao longo do tempo, o movimento já mudou de nome várias vezes –passou por rótulos como sustentabilidade, ESG e, agora, direitos humanos.
Embora os nomes mudem, a essência permanece: garantir que todas as pessoas, independentemente de sua origem ou condição, tenham as mesmas oportunidades.
No entanto, hoje estamos em um ponto de inflexão, em que empresas enfrentam uma pressão crescente, com medo de serem acusadas de agir apenas para a imagem, em vez de implementar mudanças reais.
Esse medo, por sua vez, está impactando inovação, colaboração e até mesmo retenção de talentos, colocando em risco benefícios da diversidade.
Estive presente no SXSW, realizado no mês de março, nos Estados Unidos. O tema está quente por lá, e não poderia ser diferente. A saúde —social e mental— emerge como componente essencial para uma inclusão verdadeira e profunda.
Em sessão com a cientista social Kasley Killam, discutiu-se como a conexão humana é fundamental para isso, refletindo diretamente na eficácia das práticas de inclusão nas organizações.
Saúde social não pode mais ser vista como extra ou luxo, mas como prioridade estratégica que afeta diretamente produtividade, inovação e bem-estar das pessoas no trabalho.
A ideia de que inclusão precisa ser transversal à saúde social e mental não é apenas um conceito. É necessidade urgente para as organizações.
A recomendação é para que, neste momento, mantenham-se a calma e a coerência. A cultura diversa faz bem, e isso já está provado por dados e pesquisas que associam equipes diversas a inovação, criatividade e estabilidade em momentos de crise.
Grupos heterogêneos ajudam a encontrar as melhores soluções para situações adversas.
À medida que empresas buscam se adaptar a essa crise, é importante que seus líderes desenvolvam habilidades que vão além do conhecimento técnico. É fundamental que a liderança do futuro tenha empatia para saber executar, na prática, o que foi definido previamente.
Soberania cognitiva é outra habilidade imprescindível para evitar com que fatores vindos de fora para dentro mudem o que está em curso.
Esse conceito foi trazido pela neurocientista Brené Brown e se refere à habilidade de controlar nossas próprias percepções e pensamentos, sem sermos manipulados ou controlados por influências externas.
Isso se tornou essencial para lidar com o excesso de informações e as distrações do mundo moderno. Em um ambiente saturado por informações externas e influências, líderes precisarão de clareza mental para tomar decisões assertivas e de uma compreensão profunda dos outros para liderar com empatia.
Soberania cognitiva será a habilidade fundamental para líderes navegarem as incertezas do futuro e para organizações se manterem resilientes. Além disso, empatia será crucial para conectar diferentes pontos de vista, criar espaços inclusivos e cultivar a inovação.
O externo quer nos fazer acreditar que o lado humano precisa estar em segundo plano para obter os melhores resultados, principalmente financeiro. Mas o pensamento aqui é justamente o contrário.
Chame como quiser: diversidade, inclusão, direitos humanos, ESG. O nome importa menos do que o compromisso. Porque enquanto uma só pessoa ficar para trás, nenhuma empresa estará realmente à frente.
Fonte ==> Folha SP