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Equívoco na educação paulista – 01/05/2025 – Opinião

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Diante dos modestos indicadores da educação do estado de São Paulo, é temerário que o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) insista em pautas bolsonaristas e no descaso com evidências.

Na segunda (28), foram anunciadas as 100 escolas estaduais que adotarão o modelo cívico-militar a partir do segundo semestre. Menos de 5% das mais de 5.500 unidades da rede (302) se interessaram pelo programa e só 132 conseguiram aval da comunidade escolar por meio de consulta pública. A partir desse montante, o governo fez sua seleção.

Tal modelo baseia-se na ideia equivocada de que a dura disciplina da caserna é capaz de melhorar a aprendizagem. Contudo sabe-se que as melhores notas nessas escolas têm origem em rígidos processo de seleção do alunado e no acesso a maiores volumes de verbas públicas.

O ensino continuará a cargo dos professores, e policiais militares da reserva serão contratados para atuar em segurança e projetos extracurriculares sobre civismo e direitos e deveres dos cidadãos. Para isso, receberão pagamentos de R$ 301,70 a cada jornada diária de 8 horas, podendo cumprir até 40 horas semanais. O gasto estimado pelo governo é de cerca de R$ 7,2 milhões.

Durante a discussão da proposta, em fevereiro de 2024, previu-se que o modelo seria implantado em escolas com baixos resultados no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) e localizadas em regiões de vulnerabilidade social.

Mas levantamento da Folha revelou que, das 100 unidades, apenas 22 não alcançaram as médias da edição mais recente do Ideb, com dados relativos a 2023, para o 9º ano do ensino fundamental (5,1) e o ensino médio (4,2).

Ademais, 90 atendem alunos de nível socioeconômico médio alto, segundo critérios do Ministério da Educação (MEC) —vivem em lares com mais de dois quartos, têm acesso a dois celulares com internet, wifi e carro, e os pais concluíram ao menos o ensino médio.

Um dos estados mais ricos do país ainda não conseguiu se recuperar dos efeitos da pandemia no setor. A nota do Ideb no final do ensino fundamental foi de 5,3 em 2019 para 5,1 em 2023; no ensino médio, passou de 4,3 para 4,2, ficando abaixo de estados mais pobres como Pará (4,3), Ceará (4,4) e Pernambuco (4,5).

O governo Tarcísio precisa escapar de fetiches ideológicos e investir em políticas baseadas em estudos técnicos —como a iniciativa de parcerias público-privadas em infraestrutura escolar. Ecos bolsonaristas não ajudarão a melhorar o quadro do ensino.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte ==> Folha SP

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