Montagem que promove uma fusão de linguagens cênicas (Circo, Dança, Teatro e Palhaçaria), o espetáculo Soa como caos: uma travessia entra em cartaz no Teatro do chc-san house (av. Independência, 75) nesta quinta-feira (2) para uma curtíssima temporada que se estende até sábado (4), com sessões sempre às 20h. Assinada pelo diretor, dramaturgo, ator e palhaço Fábio Castilhosa peça celebra os encontros, os caminhos e a filosofia de vida itinerante. Os ingressos custam entre R$ 15,00 e R$ 50,00 e estão à venda pela plataforma Sympla.
Contemplado pelo edital de Montagem do Teatro do CHC-Santa Casa, o espetáculo é inspirado na experiência mambembe dos artistas circenses Felipe Mendes e Laura Fernandes, que chegaram a Porto Alegre no ano passado após um período como cicloviajantes. De acordo com Castilhos, a jornada da dupla que forma o elenco de Soa como caos foi o ponto de partida para a construção da narrativa, que mistura ficção e realidade. “Eles viajaram de bicicleta, se apresentando em diversos estados brasileiros e em outros países da América Latina”, contextualiza o diretor. “Com base nessa história, fomos experimentando improvisos e, em determinado momento, decidimos criar um universo ficcional para falar sobre o tempo, sobre escolhas e sobre encontros. Esse é o nosso principal mote: a ideia de que o que importa é o caminho percorrido.”
Castilhos observa que a montagem tem “pouco texto e bastante silêncio”, transportando para o palco o cotidiano de artistas viajantes e convidando o espectador a refletir sobre a estrada, sua simplicidade, seus silêncios e poéticas, sempre sob a ótica do afeto. As referências de vivências da dupla no interior de Minas Geraisno Norte do País e na Bolívia se entrelaçam na estética da obra, mas a peça busca deixar em aberto o tempo e o lugar, reforçando a ideia de que “o caminho é o propósito”. A equipe ainda conta com a bailarina, coreógrafa e diretora artística da Cia. Municipal de Dança, Franco Isadoraresponsável pela direção de movimento, preparação corporal e coreografias.
O próprio títuloAssim, Soa como caos…, remete a uma desordem incorporada na estrutura do espetáculo, que se manifesta em uma narrativa não linear (ainda que conte uma história) e em uma brincadeira com um tempo. O diretor ainda relaciona a ideia de caos à linguagem da Palhaçaria, que “é forte na montagem”, e que “joga com a fronteira entre ficção e realidade”, valorizando a consciência do “aqui e agora” na atuação teatral. Ainda de acordo com Castilhos, a dramaturgia do espetáculo encontra um fio condutor na filosofia expressa em uma citação de Guimarães Rosa que inspira o trabalho: “o real não está na saída nem na chegada: ele se dispõe para a gente é no meio da travessia.” Segundo o diretor, a estética Roseana, no entanto, está presente como uma influência subterrâneaque dialoga com a ideia do interior geográfico, mas também subjetivo.
A dramaturgia ainda é enriquecida com a trilha sonora de Sérgio Bai e a iluminação de Bathista Freire, que surgem como elementos narrativos “essenciais” para contar a história. “A trilha, em particular, colabora para transmitir a sensação de uma travessia longa. Ao apresentar temas que se repetem com variações, ela simula a experiência da estrada: parece que pouca coisa muda, mas sempre há uma diferença nessas repetições”, detalha o diretor. “É um jogo com signos musicais que se reiteram”. Já o cenário conta com uma carroça, movida pelo elenco, que “carrega a vida” dos personagens e seus objetos circenses, levando a essência mambembe para a estrutura do teatro.
Castilhos afirma que a larga experiência do elenco em espetáculos de rua foi fundamental para a criação da peça. Ele destaca que Mendes e Laura, que também participaram de uma série de ações nos abrigos para desalojados das enchentes na Capital, no ano passado, recentemente receberam o reconhecimento da cena local, com oito indicações ao Prêmio Açorianos de Circo 2024. “Destas indicações, eles venceram em três categorias com a montagem Os encrencados: Melhor Palhaço (para Mendes), Artista Revelação (para Laura) e Melhor Direção (Para ambos). ”
A transição da proximidade da rua para o palco tradicional do CHC Santa Casa exigiu uma preparação corporal e vocal específica para o elenco, destaca o diretor. Ao falar sobre a possibilidade de circulação da obra em outros espaços cênicos e em festivaisCastilhos afirma que acredita neste potencial, mas reforça a filosofia da peça sobre aproveitar cada momento e viver no presente. “A vida, no fim das contas, não é onde a gente vai chegar, mas sim como a gente está se relacionando com o que está acontecendo neste exato momento.”
Fonte ==> Folha SP