A alta do IPCA-15 em julho, de 0,33%, a maior para o mês desde o ano de 2021, não surpreendeu analistas. O índice é mais alto desde maio de 2025, quando o indicador havia marcado 0,36%. Da mesma forma, o indicador em 12 meses é o mais alto desde maio, meses depois de ter fechado o ano de 2024 acima da meta.
Para este ano, a pressão inflacionária deverá, novamente, superar a meta, embora tenha havido uma desaceleração em relação aos alimentos. A queda no setor tem relação com questões pontuais, como é o caso das mudanças no mercado internacional, sobretudo o café e outros produtos que estavam sofrendo grande pressão. No entanto, é possível identificar uma transferência para outros grupos, como o setor de serviços, conforme aponta o professor de Economia da PUCRS, Gustavo Inácio de Moraes.
“Tradicionalmente, o setor de serviços sempre foi o que teve a maior peso na inflação. O IPCA 15, que saiu nesta quinta-feira, mostra pressão sobre a tarifa de energia elétrica. Em São Paulo, houve reajustes de dois dígitos nas contas de luz”, exemplifica. “Não enxergamos uma inflação abaixo de 5% antes de novembro”, indica o economista, para quem não será a contenção de demanda que fará os preços voltarem ao seu patamar anterior.
O analista lembra também que a percepção de inflação é diferente conforme a idade ou classe social. Exemplo é o preço de medicações, que é mais sentido entre a população da terceira idade. “É importante olharmos por faixas. Os últimos 12 meses foram muito difíceis para a classe mais popular, onde os gêneros de primeira necessidade participam no orçamento familiar com maior proporção, ao contrário de uma família abastada, que terá o alimento representando o mínimo da renda”, ressalta.
Diante disso, é possível indicar que a transferência da pressão inflacionária para serviços, entre eles energia elétrica e passagens aéreas, será mais sensível a classes média alta ou alta. “A pressão ficaria concentrada no setor de serviços, assim, acho que a classe média será afetada no caso, por exemplo, de serviços de saúde, educação e serviços de transporte, de passagens aéreas. Há uma relação, em que, quanto maior a renda, maior vai ser o índice de inflação. Conforme a onda, atinge mais um setor ou não”, observa.
O economista Giacomo Balbinotto Neto, professor Economia da Ufrgs, aponta o cenário internacional como um fator de queda de preços no mercado internos. Os estoques não terão vazão em função das tarifas impostas pelo governo dos Estados Unidos. “Vai haver uma desorganização na cadeia produtiva e nos custos, com o choque de ofertas”, lembra. O efeito, no entanto, só acontecerá mais para o final do ano. “Notamos claramente esses preços nos produtos em supermercados. Se se concretizar, levará de 4 a 6 meses, para a reorganização do mercado, com o uso de estoques locais”, indica.
A inflação não deverá diminuir a patamares próximos à meta, uma vez que, segundo o professor, não há sinais de ajuste fiscal duradouro. O déficit fiscal não resolvido é responsável pelos índices de pressão. “É muito improvável que o Brasil bata a meta. Vai passar um pouco”, avalia. Além disso, Balbinotto suscita a possibilidade de o Banco Central aumentar 0.25 na taxa de juros mais próximo ao final de 2025, caso se confirmem essas pressões inflacionárias.
Fonte ==> Folha SP