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Impacto socioambiental transforma utopia em realidade – 08/04/2025 – Papo de Responsa

Um grupo de seis pessoas está posando em um campo de cacau. Eles estão vestidos com camisetas verdes e bonés azuis, segurando frutos de cacau nas mãos. Ao fundo, há árvores de cacau e uma caixa laranja no chão, com mais frutos ao redor.

A civilização está diante de um grande dilema: como seguir evoluindo sem causar danos irreversíveis ao planeta e ao próprio ser humano? A resposta passa por cooperação e alianças estratégicas, capazes de transformar desafios em soluções concretas.

Pensar em uma sociedade ideal, com leis justas e instituições verdadeiramente comprometidas com o bem-estar coletivo, não pode mais ser considerado um devaneio inalcançável. A utopia precisa sair do papel.

O próprio termo, criado por Thomas More no livro “Utopia” (1516), descrevia um lugar fictício de equilíbrio e prosperidade na América do Sul. Mas o continente —e o Brasil, em particular— ainda está distante desse ideal. Somos uma das dez maiores economias do mundo e, ao mesmo tempo, um dos países mais desiguais do planeta.

Para avançarmos, é essencial construir alianças e ressignificar nossos papéis na sociedade. Quem tem mais privilégio precisa assumir mais responsabilidade. O Estado tem que garantir serviços básicos para todos.

Estudo divulgado neste mês pelo Instituto Trata Brasil apontou que a falta de saneamento básico causou a internação de mais de 300 mil cidadãos em 2024. Os números são absurdos: 4 milhões de brasileiros não têm banheiro e cerca de 100 milhões não têm acesso à coleta de esgoto.

A situação só não é pior porque existem organizações e institutos que trabalham, junto com negócios de impacto, para resolver dores como essa. As empresas precisam investir mais nessas iniciativas, lançar mão de um capital social e não se importar somente com seu lucro financeiro.

Foi com essa visão que Civi-co e Impact Hub decidiram se unir. Antigos concorrentes, agora parceiros, decidimos formar um consórcio de impacto —estrutura flexível e colaborativa, que não é uma fusão nem associação formal de marcas, mas uma sinergia estratégica para ampliar o impacto positivo.

Juntos, queremos potencializar o fomento do ecossistema de empreendedores comprometidos com a transformação social e ambiental. Essa aliança demonstra nossa convicção de que colaboração é o único caminho viável para resolver os desafios mais complexos da nossa era.

A história nos ensina que as maiores mudanças ocorrem quando forças diversas se unem em prol de um objetivo comum. A formação da ONU (Organização das Nações Unidas) após a Segunda Guerra Mundial, o Acordo de Paris para conter a emergência climática e até mesmo consórcios empresariais como o Airbus Consortium mostram que desafios globais exigem soluções coletivas.

O Brasil, com sua diversidade social e ambiental, tem a chance de ser protagonista nesse cenário, mas precisa ativar seu potencial a partir da inclusão real de todos os atores da sociedade. O país pode ser um laboratório vivo para o impacto social e ambiental.

Precisamos trabalhar estrategicamente, compartilhando saberes de diferentes territórios e realidades. A tecnologia social nos ensina que toda ação transformadora começa com inclusão.

Se trouxermos para o centro da equação social povos originários, população negra e todas as vozes historicamente marginalizadas e silenciadas, poderemos reverter o eixo da desigualdade e construir uma sociedade mais equilibrada. Hoje, a estrutura favorece poucos. Mudar isso exige um pacto coletivo.

O mundo atravessa uma transição marcada por resistência e retrocessos. A agenda da sustentabilidade é frequentemente ignorada, enquanto a concentração de riqueza avança rapidamente.

Segundo a Oxfam, apenas em 2024, surgiram 204 novos bilionários no planeta, e o ritmo de enriquecimento dos super-ricos triplicou em relação a 2023. Estamos a apenas cinco anos da meta da Agenda 2030 da ONU. Sabemos que sozinhos não conseguiremos cumpri-la. Precisamos agir juntos, ampliando a rede de colaboração.

É curioso notar que o SXSW, maior evento global de inovação tecnológica, trouxe como principal tema deste ano a pandemia da solidão. Essa escolha reflete um sintoma global da desconexão humana com sua essência.

Nos afastamos da natureza e do convívio social, trocando interações reais por conexões digitais. Mas, se estamos plugados, também estamos alienados da realidade. O movimento do impacto socioambiental é uma resposta a essa alienação. Ele não se limita a empreendedores e ativistas; trata-se de um chamado para toda a sociedade.

O nome Civi-co é, por si só, um convite à cidadania ativa e à construção de um futuro mais justo. Ao unir forças com o Impact Hub, essa missão se fortalece ainda mais.

“Quando a gente se junta, o impacto é gigante,” diz o lema de nosso mais novo parceiro. Como nos grandes momentos da história, a transformação só será possível se caminharmos juntos. “Não é loucura, não é utopia, é justiça”, como bem disse Dom Quixote de La Mancha.



Fonte ==> Folha SP

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