Search
Close this search box.
Search
Close this search box.

Inflação menor realinha previsões, mas desafios persistem | Opinião

Inflação menor realinha previsões, mas desafios persistem | Opinião

Os juros futuros fecharam em baixa a semana passada nos seus diversos vencimentos, após o recuo da prévia da inflação, medida pelo Índice de Preços ao Consumidor, o IPCA-15, em junho. Com a primeira desaceleração no índice acumulado em 12 meses ocorrida desde setembro de 2024, uma composição benigna e o recuo de preços até então renitentemente em alta, como os dos alimentos, o IPCA-15 surpreendeu. O índice de junho subiu 0,26%, menos do que o mercado esperava, e abaixo do 0,36% de maio.

A gasolina foi a principal influência para baixo no IPCA-15 de junho. Em maio, havia subido 0,14%, e em junho caiu 0,52%. A queda ocorreu após o corte de 5,6% da gasolina nas refinarias promovido pela Petrobras, válido a partir de 3 de junho, o primeiro desde julho de 2024.

O grupo de alimentação e bebidas teve deflação de 0,02% em junho, após alta de 0,29% em maio. Foi a primeira queda de preços após nove meses de alta, puxados por tomate, ovo e arroz. A desaceleração também foi observada na alimentação fora do domicílio, de 0,63% em maio para 0,55% em junho.

No total, seis das nove classes de despesas usadas para cálculo do IPCA-15 caíram entre maio e junho. As outras classes de despesas com taxas menores de variação foram vestuário (de 0,92% para 0,51%); saúde e cuidados pessoais (de 0,91% para 0,29%); despesas pessoais (de 0,50% para 0,19%); educação (de 0,09% para -0,02%); e comunicação (de 0,27% para 0,02%).

Do outro lado, o que manteve o IPCA-15 alto foi a energia elétrica, que acelerou de 1,68% em maio para 3,29% em junho. Só a energia elétrica respondeu por 0,13 ponto percentual, ou metade da taxa de 0,26% do índice em junho. O aumento é consequência da bandeira tarifária vermelha em junho, determinada pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel), que levou a cobrança adicional de R$ 4,46 a cada 100kWh consumidos.

A melhora do quadro inflacionário foi suficiente para levar os contratos futuros de juros com vencimento em janeiro do próximo ano abaixo dos 15%, patamar atual da taxa básica Selic, embutindo a previsão de queda dos juros na virada do ano. Em paralelo, aumentou a demanda por títulos prefixados no leilão do Tesouro Nacional.

Mas a inflação acumulada em 12 meses ainda está bem acima da meta perseguida pelo Banco Central de 3% neste ano, mesmo considerando a tolerância de 1,5 ponto percentual para baixo ou para cima — o que não autoriza maiores otimismos em relação aos juros. Com o dado de junho, o IPCA-15 acumula alta de 5,27% em 12 meses. Até maio, o resultado era de 5,40% no mesmo período. No boletim Focus desta semana, o IPCA-15 reduziu as previsões para a inflação para 5,20% neste ano, de 5,46% quatro semanas atrás.

Os fatores que levaram o IPCA-15 a recuar não continuarão bem-comportados necessariamente. A trégua sazonal dos alimentos in natura, por exemplo, deve terminar em agosto. A pressão nas contas de energia tende a se manter, diante da redução das chuvas típica do atual período. O efeito integral da bandeira vermelha, iniciada neste mês, terá impacto maior no IPCA cheio, uma vez que o IPCA-15 ainda reflete preços mais baixos referentes a maio devido ao período de coleta de preços para apuração do índice que foi de 16 de maio a 13 de junho. Além disso, a Aneel já anunciou o acionamento da bandeira vermelha patamar 1 nas contas de luz de julho, mantendo a mesma condição vigente em junho.

Em relação à gasolina, o horizonte continua nebuloso, pois depende de fatores externos como o conflito entre Irã e Israel, que, por ora, estaria em período de trégua, assentada em humores nem sempre estáveis dos líderes envolvidos, com repercussão também no câmbio. Há ainda o receio da sempre presente inflação de serviços, sustentada pelo mercado de trabalho aquecido.

Na melhor das hipóteses, os sinais positivos de junho podem trazer a inflação deste ano mais perto dos 5% do que os 6% temidos no início do ano, o que sinaliza uma política monetária ainda apertada, como indicaram a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central e o Relatório de Política Monetária, ambos divulgados na semana passada.

Na ata, o Copom salientou que “a economia ainda apresenta resiliência, o que dificulta a convergência da inflação à meta e requer maior aperto monetário”, ao justificar a elevação da Selic para 15%. Ao mesmo tempo, indicou a interrupção do ciclo de elevação dos juros, iniciado em setembro de 2024, “para avaliar os impactos acumulados ainda a serem observados da política monetária”. Como disse o diretor de Política Monetária, Nilton David, os canais de transmissão da política monetária estão obstruídos, o que dificulta a sua efetividade.

O próprio BC prevê inflação acima da meta de 4,9% para este ano, e de 3,6% para 2026 — o horizonte relevante da política monetária. As projeções são baseadas nas estimativas do próprio mercado para a trajetória dos juros levantadas no boletim Focus, que embute expectativa de cortes na Selic a partir do próximo ano.

Na entrevista à imprensa, o presidente do BC, Gabriel Galípolo, indicou que é possível levar a inflação à meta desde que os juros sigam outra trajetória, deixando no ar a possibilidade de Selic elevada por mais tempo. Galípolo evitou o terreno pantanoso do ajuste fiscal. Mas medidas nessa área tornariam sua tarefa menos arriscada.



Fonte ==> Exame

Relacionados