A intervenção militar americana no sul do Caribe deve entrar na pauta das conversas de dois encontros que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá na próxima semana. Na segunda, Lula recebe, no Palácio do Planalto, Daniel Noboa, presidente do Equador. Na sexta, 22, é a vez de o presidente brasileiro participar, em Bogotá, da 5ª Cúpula de Presidentes dos Estados Partes do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA).
A emergência do tema surgiu com a confirmação, pelo secretário de Estado americano, Marco Rubio, de que uma operação está em curso. “Há grupos narco-terroristas operando na região, alguns deles usando o espaço aéreo internacional, águas internacionais para traficar drogas para os Estados Unidos e esses grupos serão confrontados, o presidente Trump deixou isso claro”, disse Rubio.
O secretário de Estado mencionou o “Cartel dos filhos”, grupo venezuelano do narcotráfico. Disse ainda que os EUA não reconhecem o regime de Nicolas Maduro, que é um “empreendimento criminoso” e ameaça a segurança dos Estados Unidos: “Qualquer ameaça à segurança americana será confrontada”.
A Venezuela é um dos oito países da OTCA, mas Nicolás Maduro não participará do encontro. A expectativa de que o tema venha a ser tratado foi despertada pela manifestação do presidente colombiano, Gustavo Petro, de que os chanceleres da região deveriam se reunir para discutir a ameaça de uma intervenção militar dos Estados Unidos. Nenhum convite desse encontro havia chegado, até o início da noite de sexta, no Itamaraty.
Depois que a primeira notícia desta ofensiva, na primeira semana de julho, saiu no “The New York Times”, a presidente do México, Claudia Sheinbaum, reagiu dizendo que o país não aceitaria a presença militar americana.
A princípio, a maior preocupação dos países da região, inclusive do Brasil, é que, qualquer instabilidade maior na Venezuela, venha a provocar um aumento do fluxo migratório para os vizinhos, principalmente pelas fronteiras brasileira e colombiana.
O precedente de uma operação militar na região sempre preocupou a diplomacia brasileira. Desde o governo Jair Bolsonaro, os EUA pressionam o Brasil a classificar as organizações do crime organizado de “terroristas”. Um projeto de lei nesse sentido avançou sob o governo Bolsonaro mas não chegou a ser aprovado. Três emissários do governo americano chegaram a ser recebidos pelo secretário-executivo do Ministério da Justiça, Manoel Carlos de Almeida Neto, para tentar emplacar a designação.
Dele ouviram que a Polícia Federal já tem uma cooperação com a Administração de Repressão às Drogas (DEA na sigla em inglês) americana. O secretário-executivo ainda explicou que, apenas com um dos únicos países da fronteira, a Bolívia, o Brasil tem uma fronteira maior (3,4 mil km) do que aquela entre EUA e México (3,1 km). E que as dificuldades de fiscalização são inerentes a fronteiras extensas como comprova a própria experiência americana. Finalmente, foi exposto ao grupo de americanos, do qual participava o encarregado de negócios da embaixada americana, Gabriel Escobar, que a droga que passa pelo Brasil vinda da região andina se destina à Europa e não aos EUA.
Esta operação militar, que ainda não foi detalhada pelo Pentágono, será a primeira em quase 40 anos na região. A última vez que isso aconteceu foi em 1989 quando o governo George Bush determinou a invasão do Panamá para tirar o então presidente Manuel Noriega do poder. A operação foi desencadeada pela acusação de que Noriega estava envolvido com o narcotráfico.
O Plano Colômbia, em 1999, também envolveu presença militar americana, mas foi decorrente de um acordo entre os governos Andrés Pastrana, da Colômbia, e Bill Clinton, dos EUA, para o combate ao narcotráfico no território colombiano.
A preocupação com a qual o governo brasileiro começa a ver o tema não se estende às Forças Armadas. Os americanos têm operações regulares na região há décadas, inclusive no Brasil. Desde o acordo militar da década de 1950, os militares brasileiros e americanos fazem treinamentos conjuntos. O acordo ainda prevê compra e manutenção de equipamentos.
O próximo treinamento conjunto se dará em outubro, em Petrolina (PE). O Brasil ainda tem um oficial das Forças Armadas no Comando Sul das Forças Armadas americanas. Hoje o posto é ocupado pelo general Flavio Matias. São exércitos amigos, diz uma fonte do Exército prontamente rebatida por um assessor do presidente: a amizade é das nações, não dos exércitos.
Fonte ==> Exame