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Invasões de abril – 11/04/2025 – Opinião

A imagem mostra um grupo grande de pessoas reunidas ao ar livre, sob a sombra de árvores densas. A maioria das pessoas está de costas, voltadas para um orador ou uma apresentação. Algumas motos estão estacionadas ao fundo, e a vegetação ao redor é verde e abundante.

Com boa dose de despudor, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) reserva um mês do ano para intensificar as invasões de propriedades rurais, ilegalidades mal disfarçadas com o nome de ocupações. Trata-se do Abril Vermelho, em curso neste momento, cujo propósito declarado é pressionar o governo de turno a acelerar a reforma agrária.

Note-se, entretanto, que a agressividade do MST não é necessariamente proporcional à má vontade de Brasília com sua causa. Ao longo dos quatro anos do mandato de Jair Bolsonaro (PL), por exemplo, contaram-se 62 invasões de terra. Já nas administrações do PT, partido que é aliado desde sempre do movimento, as cifras são bem maiores.

Em 2023, primeiro ano do terceiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, foram 72, nos cálculos da Confederação Nacional da Agricultura (CNA). No ano passado, mais 35; neste mês, já se contam 20 apenas nos primeiros oito dias, no que parece ser um recrudescimento da ofensiva.

Há muito de teatral nas ações do MST —exceto, é claro, para quem tem sua propriedade invadida. Sob Lula, a agremiação tem a oportunidade de recuperar algo de sua relevância política, há muito esvaziada assim como o apelo da reforma agrária.

Tal política viveu seu auge nos dois primeiros mandatos do petista (2003-2010), quando foram assentadas 614,1 mil famílias, e nos do tucano Fernando Henrique Cardoso (1995-2002), que beneficiou 540,7 mil. Foram tempos, aliás, em que invasões de terras chegavam à casa das centenas anuais. A partir de Dilma Rousseff (PT), na década passada, as cifras caíram drasticamente.

Em parte, porque o dinheiro secou, dado que desde então o Orçamento federal tem sido deficitário; em parte, pela influência do ruralismo nos governos Michel Temer (MDB) e Bolsonaro. Mas também, e não menos importante, porque faltam evidências de que aprofundar a reforma agrária seria política social ou de desenvolvimento eficiente.

Decerto há taxas vexatórias de pobreza e desigualdade no país, e no campo em particular, mas cumpre demonstrar a conveniência de ampliar a população rural, a um custo elevado, enquanto a produção agrícola se torna mais mecanizada e produtiva.

O governo petista, como de costume, prestigiará o movimento aliado com discursos, metas e promessas para o setor. Em contrapartida, colherá o desgaste de ser associado, por leniência, a ações ilegais, por vezes violentas, que não são repudiadas somente por radicais da direita.

editoriais@grupofolha.com.br



Fonte ==> Folha SP

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