Não muito tempo depois de sua formação, a Terra recebeu um golpe: um objeto com tamanho similar ao de Marte a atingiu. Esse objeto, chamado Theia, acabou destruído e partes dele e do planeta foram lançadas ao espaço. Daí, surgiu a Lua.
Essa é uma hipótese para explicar como o nosso planeta ganhou seu satélite natural. Mas ainda há muitas questões acerca desse choque. Uma delas é: qual a origem de Theia?
Um estudo publicado na última quinta (20) na revista Science pode ajudar a responder a essa e a outras questões sobre o tema.
Ao analisarem pistas químicas nas rochas da Terra, em meteoritos e em material lunar, cientistas encontraram vestígios de Theia. E, segundo eles, Theia e a Terra primitiva foram construídas com os mesmos materiais.
Isso explica por que a química das rochas lunares é tão semelhante à da Terra: o impacto de Theia em uma Terra quimicamente similar criaria um satélite que se pareceria com os dois corpos.
Isso também significa que Terra e Theia se formaram na mesma parte do espaço, em um redemoinho de poeira e gás próximo a um Sol adolescente, no que hoje chamamos de Sistema Solar interno.
Embora existam várias hipóteses a respeito de como a Terra obteve a Lua, Theia é a principal suspeita.
Esse objeto explica muito sobre o sistema Terra-Lua, e a era de formação de planetas do Sistema Solar “se assemelha a um vasto jogo de bilhar cósmico”, afirmou Nicolas Dauphas, da Universidade de Hong Kong, um dos autores do novo estudo.
Naquela época, impactos gigantes eram comuns. Mais tarde, eles diminuíram, mas sem desaparecer completamente. “A Terra acabou sendo atingida por um tardio”, afirmou Thorsten Kleine, do Instituto Max Planck para Pesquisa do Sistema Solar (Alemanha), também autor da pesquisa.
Simulações computacionais de impacto geralmente (mas nem sempre) apontam a formação de uma lua composta sobretudo por pedaços de Theia. Isso tem sido um ponto de discordância porque a Lua, quimicamente, tem muito em comum com o manto terrestre.
Tentar resolver esse quebra-cabeça é difícil, segundo Paul Byrne, da Universidade Washington em St. Louis (EUA). Duas enormes bolhas situadas no núcleo da Terra que poderiam ser fragmentos sobreviventes da colisão são inacessíveis. Além disso, Theia não existe mais, pelo menos não de uma forma que possa ser estudada diretamente. “Mas isso não significa que não valha a pena tentar”, disse Byrne, que não esteve envolvido no novo estudo.
Para o novo estudo, cientistas concentraram-se no conteúdo de ferro das rochas da Terra e da Lua.
Quando a Terra ainda estava se formando, o ferro inicialmente presente escorreu para o núcleo, onde permanece até hoje. Mas o manto terrestre também possui uma quantidade substancial de ferro. Não faz sentido que tanto ferro tenha sido deixado para trás durante a formação do núcleo do planeta, porque as densas gotas de ferro deveriam ter descido em direção a ele. Isso significa que uma grande fração do ferro do manto terrestre deve ter vindo de uma fonte extraterrestre em uma data posterior.
Theia é uma explicação possível para esse ferro do manto, que por sua vez pode dar pistas sobre a composição geral de Theia.
O ferro se apresenta em diferentes formas. Se as misturas de ferro das rochas derivadas do manto terrestre e das rochas lunares fossem consideradas comparáveis, isso sugeriria que Terra, Theia e Lua foram formadas a partir do mesmo material fundamental. A equipe descobriu que elas são praticamente indistinguíveis.
As assinaturas de ferro dos três também são muito semelhantes àquelas encontradas em meteoritos conhecidos como condritos não carbonáceos. Essas rochas espaciais se formaram próximas ao Sol durante os primeiros dias do Sistema Solar. Isso sugere que Terra e Theia surgiram inicialmente na mesma vizinhança do Sol.
O nosso planeta também é estranhamente enriquecido em material criado por um tipo de reação nuclear dentro das estrelas. A Terra jovem formou-se nas proximidades do Sol, porém não deveria ter tanto desse tempero solar. Os pesquisadores disseram acreditar que esse tempero extra também veio de Theia, o que significa que o objeto se formou ainda mais próximo do Sol do que a Terra.
“Eles certamente fizeram um grande trabalho, analisando uma variedade de amostras e tentando dar sentido a tudo isso”, afirmou Byrne. No entanto, a nova hipótese envolvendo a colisão entre Terra e Theia ainda está repleta de questões que, devido ao fim de Theia, talvez nunca sejam resolvidas.
Fonte ==> Folha SP – TEC