Search
Close this search box.
Search
Close this search box.

Maduro aposta em apoio chinês em caso de conflito com EUA – 05/12/2025 – Igor Patrick

Maduro aposta em apoio chinês em caso de conflito com EUA - 05/12/2025 - Igor Patrick

O verborrágico presidente dos Estados Unidos disse na tarde de quinta (4), para quem quisesse ouvir, que os americanos estão se preparando para uma investida por terra na Venezuela.

Ato contínuo, Maduro fez questão de alardear a força dos seus laços com a China. A despeito de reportagens na imprensa americana dando conta de que Trump deu a ele um ultimato para deixar o país, lá estava Maduro inaugurando uma Praça da Amizade China-Venezuela no coração de Caracas.

Pequim também teve lá seus arroubos retóricos, dizendo que trabalha para manter a América Latina uma região de paz e prosperidade e urgindo o líder americano a não invadir. Parou por aí.

Isso porque a aposta de Maduro em potencial apoio chinês em caso de conflito aberto com os EUA é, no melhor dos mundos, ilusória. O apoio chinês à Venezuela já não é o que foi e, hoje, a relação se sustenta mais em declarações diplomáticas do que em compromissos concretos.

Nos últimos anos, o regime chavista transformou a China em uma espécie de fiadora externa. De 2007 a 2019, Pequim emprestou cerca de US$ 67 bilhões ao país, boa parte em contratos de petróleo que serviram como garantia de pagamento. A aposta fazia sentido naquele momento, já que a Venezuela possui as maiores reservas de petróleo do mundo, e a China era o maior importador global do combustível.

Mas com o colapso da economia venezuelana, o endividamento crescente e as sanções americanas, essa equação desandou. Os empréstimos não foram pagos integralmente, os carregamentos de petróleo rarearam e o ambiente político em Caracas se tornou um risco permanente para qualquer investidor estrangeiro.

A relação, que no início dos anos 2000 parecia promissora, converteu-se em um fardo. A China então reduziu drasticamente sua exposição, com empresas interrompendo compras diretas de petróleo e novos financiamentos suspensos.

Agora, diante da possibilidade de uma ação militar americana, Maduro tenta capitalizar simbolicamente o vínculo com Pequim. Ao lado de Rússia e Irã, o regime tenta apresentar a China como contraponto à influência americana no hemisfério.

Pequim não vai embarcar nesta narrativa. O discurso permanece centrado na defesa da “não intervenção”, mas, na prática, trata-se de uma posição de neutralidade conveniente que evita o confronto com Washington e protege o capital político em outros tabuleiros mais relevantes, como o Indo-Pacífico e o Sudeste Asiático.

A Venezuela perdeu valor estratégico para a China e já não é prioridade dado seu peso econômico marginal. A manutenção do regime chavista interessa apenas enquanto instrumento de estabilidade mínima que permita a recuperação de parte das dívidas, mas qualquer envolvimento militar ou diplomático chinês mais profundo seria desproporcional aos ganhos.

A lição que Pequim parece ter tirado da última década é que alianças ideológicas custam caro e rendem pouco. Por isso, é provável que limite sua reação à retórica de sempre, condenando a ingerência externa. Ao mesmo tempo, observará à distância a movimentação americana, sem qualquer intenção de proteger Maduro de um eventual colapso.

Pequim sabe que já perdeu dinheiro demais em Caracas. A prioridade agora é evitar novos prejuízos e preservar sua imagem global em um contexto de competição intensa com Washington. Maduro pode continuar dizendo que conta com o apoio chinês, mas a verdade é que, se a pressão aumentar, dificilmente encontrará mais do que palavras.



Fonte ==> Folha SP

Relacionados