Depois de alguns anos casada, achei justo ter uma cerimônia, mesmo que fôssemos nós dois. Aproveitei que faríamos uma viagem à Tailândia, pedi o conje em casamento por telefone, contratei uma agência e acertei os detalhes pelo WhatsApp, com direito à decoração, chuva de pétalas de flores e três monges.
Precisa de uma roupa adequada para o pé na areia. Também pela internet encontrei uma saída de praia chiquíssima, dessas que eu jamais usaria num dia normal de sol, mas perfeita para a ocasião. Só faltava ver se no meu corpo ficaria tão bem quanto no da modelo da foto. Uma amiga se ofereceu para me acompanhar e dar palpite. Achei bobagem ocupar seu tempo. Era só um vestido.
Me achei muito deusa gata praiana. Mas ali, sozinha, ao ver minha imagem no espelho, chorei. Desmoronou a mulher adulta, prática e bem resolvida e eu tive saudade de quando não respondia uma mensagem no celular sem consultar uma amiga, minha mãe ou uma cartomante. Da época em que a inexperiência para a vida me permitia dividir inseguranças reais ou infundadas, tirar dos ombros a responsabilidade de carregar sozinha os erros por minhas escolhas.
Essa conversa não é sobre vestidos.
A maturidade traz muita solidão e não é por falta de rede de apoio, de amigas e amigos carinhosos e prestativos. Sei que estarão lá em todos os momentos que meu estômago se revirar de nervoso ou se eu quiser apenas uma opinião sobre desembolsar um rim para dormir em lençóis de algodão supima.
Mas às vezes o mundo está acabando e eu insisto em me salvar sozinha ou esperar a próxima sessão de terapia para não incomodar. Não quero que os meus problemas sejam de mais ninguém porque todo mundo parece meio ferrado, sem tempo ou sossego. Sempre me pergunto se preciso de um colo, um banho de mar ou uma talagada de ansiolítico. Talvez passe se dormir. Falo para mim mesma que amanhã é outro dia. Comecei a dormir em cima dos problemas, como aconselham. Quase nunca funciona porque são eles que atrapalham o sono. Quando amanhece não apenas continuam lá no mesmo lugar como ainda tenho que lidar com eles sem conseguir raciocinar.
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Discussões, notícias e reflexões pensadas para mulheres
Queria ser apenas ridícula e infantil e pedir socorro mesmo que não haja ameaças verdadeiras. De vez em quando peço um abraço ao meu marido, mas nem sempre ele entende que é medo da vida e não uma tentativa de sexo rápido no meio do corredor. Não quero ser a mulher forte e analisada o tempo inteiro. Quero voltar à época de poder chorar de soluçar e fazer beicinho e ganhar um copo de água com açúcar para me acalmar e ouvir que vai ficar tudo bem.
Saudade do tempo em que eu poderia assumir que muitas vezes sou despreparada para lidar com decepções, perdas, lutos e cobranças. Ou pelo menos não ter que enfrentar essas questões como a adulta que esperem que eu seja. Assumir minhas inseguranças, pedir ajuda quando estou triste ou uma opinião sobre um vestido de casamento, sem medo de parecer carente, fútil ou histérica.
Fonte ==> Folha SP