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Mudanças na pelve ajudaram humanos a andar sobre 2 pernas – 28/08/2025 – Ciência

A imagem mostra a silhueta de uma pessoa caminhando na praia durante o pôr do sol. O céu está parcialmente nublado, com nuvens iluminadas por tons de laranja e amarelo. A água do mar reflete a luz do sol, criando um efeito brilhante na superfície. A pessoa está de costas, com uma postura relaxada, e parece estar segurando algo na mão.

Cientistas identificaram duas inovações na linhagem evolutiva que remodelaram a pelve e contribuíram para que humanos se tornassem bípedes, uma habilidade que hoje nos distingue de outros primatas. Os achados foram descritos em um estudo publicado nesta quarta-feira (27) na revista Nature.

Os pesquisadores examinaram a base genética do bipedalismo por meio de amostras de tecidos embrionários de Homo sapiens e de outras espécies de primatas. Eles conseguiram identificar mudanças genéticas que ocorreram em nossos ancestrais.

A primeira delas envolveu a formação de cartilagem durante o desenvolvimento pélvico embrionário. Isso possibilitou a transformação do ílio, osso que compõe a parte superior da pelve. Ele era alto, plano e estreito, como em outros primatas. Depois, passou a ser curto, largo e curvado, ajudando a estabilizar o nosso corpo para caminhada e corrida em posição ereta.

A segunda inovação resultou de um atraso e do deslocamento posterior na formação do osso pélvico no desenvolvimento embrionário. Isso preservou a nova forma vantajosa do ílio, permitindo que as mulheres possuíssem um canal de parto grande o suficiente para acomodar bebês com cérebros maiores.

“Sem essas mudanças, o caminhar humano provavelmente não teria sido possível, e os aumentos subsequentes no tamanho do cérebro teriam sido difíceis de imaginar”, disse o biólogo Terence Capellini, da Universidade Harvard. Ele é autor do novo estudo.

“O bipedalismo é a forma de locomoção que permitiu aos nossos ancestrais atravessar grandes áreas e, no fim, todo o globo”, acrescentou o pesquisador.

Ao substituir a locomoção com os quatro membros, o bipedalismo liberou as mãos da nossa espécie para outras atividades, como usar ferramentas, coletar e preparar alimentos, empunhar armas, criar arte, carregar bebês e transportar materiais por longas distâncias.

A postura ereta ofereceu ainda uma melhor observação do ambiente e diminuiu a área de superfície corporal exposta à luz solar direta, ajudando a resfriar o corpo de forma mais eficiente em climas quentes.

Os humanos empregam um tipo de bipedalismo não encontrado em outros primatas vivos.

“É um passo fundamental no que nos tornou humanos”, afirmou Gayani Senevirathne, autora principal do estudo e pesquisadora de pós-doutorado em biologia evolutiva de Harvard.

Os chimpanzés ocasionalmente andam sobre duas pernas, porém adotam sobretudo a locomoção quadrúpede. O bipedalismo humano difere anatomicamente do bipedalismo exibido por animais como aves e cangurus e, anteriormente, por alguns dinossauros como o Tyrannosaurus rex.

“Nossa forma de bipedalismo é excepcionalmente eficiente em sua forma de passada, permitindo-nos caminhar ou correr longas distâncias com gastos limitados de energia. Outros primatas que tentam andar de forma bípede usam muito mais energia, e isso é desgastante para eles”, disse Capellini.

Os pesquisadores identificaram mais de 300 genes envolvidos nas duas inovações por trás do bipedalismo humano, incluindo três com papéis de destaque.

“Não encontramos um único ‘gene do bipedalismo’. Parecia que muitos pequenos interruptores de DNA estavam trabalhando juntos”, afirmou Senevirathne.

Os chimpanzés são os parentes genéticos mais próximos da nossa espécie, que surgiu há aproximadamente 300 mil anos na África. A linhagem que levou aos Homo sapiens se separou da linhagem que resultou nos chimpanzés há cerca de 6 a 8 milhões de anos, segundo Capellini.

A pelve fossilizada mais antiga na linhagem humana, descoberta na Etiópia, pertence ao Ardipithecus ramidus e tem cerca de 4,4 milhões de anos. Esta espécie, um híbrido de caminhante ereto e escalador de árvores, apresentava algumas características pélvicas semelhantes às humanas.

O fóssil de Lucy, que é da espécie Australopithecus afarensis e combina características de símios e humanos, exibe traços pélvicos ainda mais parecidos com os dos humanos.

Segundo Capellini, esses fósseis indicam que a mudança evolutiva envolvendo a forma do ílio já havia ocorrido na época em que essas espécies vagavam pela paisagem africana.

A pelve se forma por meio de um processo que começa quando células de cartilagem se organizam em estruturas chamadas placas de crescimento, que depois endurecem e se transformam em osso, uma transição conhecida como ossificação.

A primeira das duas inovações pélvicas envolveu a reorientação de uma placa de crescimento em 90 graus para tornar o ílio largo em vez de alto. Esse rearranjo proporcionou pontos de fixação para os músculos glúteos manterem o equilíbrio enquanto uma pessoa transfere o peso de uma perna para a outra durante a locomoção.

A segunda inovação, envolvendo um atraso na ossificação pélvica, provavelmente ocorreu na época em que nossos ancestrais alcançaram aumentos significativos no tamanho do cérebro, há cerca de 1,6 milhão de anos, de acordo com Capellini.

“Dessa forma, a pelve poderia crescer em tamanho e manter uma forma importante para caminhar, mas também conservou o formato de um canal de parto que no fim seria usado para permitir a passagem de um bebê com cérebro grande”, afirmou o biólogo.



Fonte ==> Folha SP – TEC

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