1 NIVELAR POR BAIXO NÃO É A SOLUÇÃO: A LIÇÃO DO PROFESSOR ROGERS E A EDUCAÇÃO NO BRASIL
Roberto Lobo* 11 de abril de 2025
Dentro da visão – que talvez seja qualificada de “ortodoxa e profundamente antiquada” – que motivou este estudo, é possível reconhecer a importância que coloco no esforço individual para alcançar objetivos ambiciosos (nem sempre egocêntricos), e a consequente premiação deste esforço, independentemente de ser ele influenciado por outras circunstâncias históricas, ou conjunturais, alheias e fora de controle do próprio individuo.
Superar obstáculos, que todos enfrentamos em maior ou menor grau, com dedicação e determinação, é o que pode trazer sucesso a um indivíduo e, também, a uma nação.
Sou cético em relação à visão de que todos são iguais, independentemente da origem e da personalidade de cada um, e que todos, para confirmar esse conceito democrático (e burocrático), devem ter desempenhos iguais. Ou ainda que qualquer avaliação quantitativa comparativa deva ter como resultado uma reta horizontal – “todos com o mesmo desempenho”, ainda que o “empenho” possa ter sido diferente por parte de cada um – e que isso é sinônimo de democracia.
Esse tipo pensamento com o qual não concordo vem ganhando espaço nas últimas décadas – nivelando todos por baixo, uma vez que não se pode aceitar que alguém tenha um desempenho inferior aos demais, nem superior – e é muito mais fácil diminuir a régua para todo mundo do que elevar quem não atende aos padrões de suficiência.
A propósito, creio que cabe aqui que eu conte o experimento do professor Rogers. Este experimento é hipotético, mas significativo.
O Experimento do Professor Adrian Rogers: A ESALQ, USP, publicou um texto que reproduzo abaixo e que é muito semelhante a outros que se encontram na literatura sobre a suposta experiência de um professor, Adrian Rogers, da Universidade Texas Tech, nos Estados Unidos, realizada em 1931, para demonstrar a seus alunos a inviabilidade de um sistema socialista eficiente.
Porém, ao que tudo indica, Adrian Rogers não foi professor na universidade, e sim um pastor protestante famoso por seus sermões, nascido ele próprio em 1931. O texto sobre a experiência do professor, seu homônimo, foi, provavelmente, copiado ou inspirado em algum de seus sermões ou ensinamentos.
Não é a crítica do sistema socialista que pretendo discutir aqui, mas o conteúdo da experiência educacional, ainda que hipotética, porém muito verossímil, e que nos dá uma importante visão da degradação paulatina do esforço humano se ele não gerar algum tipo de recompensa e diferenciação entre a dedicação e seu oposto – a falta de compromisso com resultados.
Eis um resumo do texto citado: “Um professor de economia da Universidade Texas Tech, nos Estados Unidos, Adrian Rogers, disse que nunca havia reprovado um só aluno, até que certa vez reprovou a classe inteira. Esta classe em particular havia insistido que em um governo assistencialista intermediando a riqueza ninguém seria pobre e ninguém seria rico – tudo seria igualitário e justo. O professor então disse: “OK, vamos fazer um experimento socialista nesta classe. Ao invés de dinheiro, usaremos suas notas nas provas”. Todas as notas seriam concedidas com base na média da classe e, portanto, seriam “justas”. Assim, todos receberão a mesma nota”, o que significa que em teoria ninguém será reprovado, assim como ninguém receberá um “A”. Depois de calculada a média da classe na primeira prova todos receberam um “B”. Quem estudou com dedicação ficou indignado, mas os alunos que não se esforçaram ficaram felizes com o resultado. Quando a segunda prova foi aplicada, os preguiçosos estudaram ainda menos – eles esperavam tirar boas notas de qualquer forma. Já aqueles que tinham estudado bastante na primeia prova, resolveram que eles também se aproveitariam do “trem da alegria” das notas. Com o resultado, a segunda media geral das provas foi “C”. Ninguém gostou. (Observação: o professor Rogers usava uma baliza absoluta para medir desempenho e suficiência de conhecimentos, e não, como é comum nos EUA, um ajuste a uma gaussiana, fazendo com que todas as notas sejam relativas). Depois da terceira prova, a média geral foi um “F”. As notas não voltaram aos patamares mais altos, mas a desavença, busca por culpados e palavrões passaram a fazer parte da atmosfera daquela classe. A “busca por justiça” por parte dos alunos que tinha sido a principal causa das reclamações, agora era substituída por inimizades e senso de injustiça, que passaram a fazer parte da realidade daquela turma. No final das contas, ninguém mais queria estudar para beneficiar o resto da sala. Assim, todos os alunos repetiram aquela disciplina… O professor explicou: “o experimento falhou porque quando a recompensa é grande o esforço pelo sucesso individual é grande. Mas quando se eliminam todas as recompensas, ao tirar coisas dos outros para dar aos que não trabalharam por elas, ninguém mais vai tentar fazer o seu melhor. Tão simples quanto isso”.
Como dizem os italianos: Si non è vero è bem trovato: “Se não é verdade, é um bom achado” Não é a sua crítica ao socialismo que está em questão, mas o comportamento previsível dos estudantes a esse experimento acadêmico. Não estamos tratando de política, mas de pedagogia!
Perguntas que surgem desse experimento: -As pessoas só se motivão e se esforçam para ser melhor do que os outros? -É o senso de competitividade que move o ser humano? -Ou será que nos comparamos com os outros também para saber se podemos ser melhor naquilo que fazemos? -A presença dos outros é um obstáculo que temos que vencer ou é um padrão de referência para nosso aprimoramento pessoal? -Se outros conseguem por que não nós?
Em qualquer caso, a dinâmica da turma do professor Rogers é muito verossímil. Tudo indica que a visão supostamente mais democrática, desestimula os mais bem dotados e os mais esforçados, criando uma geração medíocre e sem “garra”, uma vez que não importa o esforço e o talento do individuo já que o resultado será o mesmo do que o dos demais e os indivíduos perdem a referência para melhorarem seu desempenho individual. É o que eu defendo.
Por isso, quando queremos melhorar o resultado acadêmico como um todo, ou quando falamos e estabelecemos políticas de inclusão, em qualquer aspecto, temos que nos programar para trabalhar com a diferença, dedicando mais tempo para acelerar os que possuem problemas, ao invés de, por comodismo, atrasar os que podem andar mais ligeiro.
Aliás, quem está atrás tem que correr mais depressa do que os outros, se quiser aparecer no filme, não é verdade? Devemos ajudar os atrasados a correr mais depressa e não segurar os mais rápidos.
Muito provavelmente, esta visão também está presente na política sindicalista, inclusive dos docentes líderes sindicais, para quem premiação e promoção por desempenho são consideradas “pouco democráticas”.
Talvez seja um dos fatores que tem levado nosso país à estagnação da produtividade do trabalho desde os anos 1970. Segundo a revista “The Economist” estamos sendo ultrapassados neste quesito por países que se encontravam muito abaixo de nós no pós-guerra.
Talvez, também, essa seja uma das razões que explicam o péssimo desempenho do Brasil em testes internacionais como o PISA.
*Roberto Lobo é PhD em física pela Purdue University, foi reitor da USP e é presidente do Instituto Lobo
Fonte ==> Estadão