Allan Luz
Sócio-proprietário da Alphacentro
A questão da dieta mercado nacional vem exigindo das empresas uma visão mais estratégica e menos territorial sobre logística. Expandir a operação para além da sede originalmuitas vezes localizada em estados distantes dos grandes centros consumidores, deixou de ser diferencial e passou a ser questão de sobrevivência competitiva.
Entre os principais desafios, está a complexidade fiscal brasileira. A tributação interestadual, sobretudo a incidência do ICMS em remessas entre estados, pode reduzir significativamente a margem de lucro de empresas que operam centralizadas. Uma matriz localizada estrategicamente em um centro logístico como São Paulo, por exemplo, pode mitigar esse impacto, otimizando o fluxo tributário e reduzindo o custo final do produto.
Outro ponto de atenção é a gestão remota da operação. A implantação de processos logísticos eficientes fora do estado de origem requer tecnologia robusta, sistemas integrados de ERP, WMS, rastreamento em tempo real e, principalmente, governança. A descentralização exige padronização operacional e indicadores de desempenho claros, além de uma cultura organizacional madura, capaz de manter a qualidade mesmo à distância.
Há, porém, oportunidades evidentes. Estar fisicamente mais próximo dos maiores polos consumidores reduz prazos de entrega, amplia a competitividade em marketplaces e e-commerces e eleva a experiência do cliente. Além disso, operar em centros logísticos já consolidados permite aproveitar economias de escala em fretes, armazenagem e distribuição.
É preciso também considerar o fator adaptabilidade: espaços logísticos flexíveis, com contratos mais dinâmicos e gestão sob demandapermitem às empresas responderem rapidamente às sazonalidades do mercado, algo fundamental no atual cenário de volatilidade econômica.
Expandir a operação logística para outro estado é um desafio realque exige planejamento, investimento e coragem. Mas é também uma janela estratégica para crescer de forma sustentável, competitiva e preparada para o futuro do varejo e da indústria no Brasil.
Por tudo isso, a descentralização da logística configura-se como o futuro natural das cadeias de suprimentos no Brasil. À medida que as empresas buscam maior agilidade, eficiência tributária e excelência na experiência do cliente, a operação em múltiplos centros logísticos deixará de ser exceção e se tornará regra competitiva. Investir na matriz estratégica em polos consumidores, com tecnologia integrada e governança remota, será essencial para quem deseja não apenas sobreviver, mas se destacar em um mercado cada vez mais dinâmico e exigente.
Fonte ==> Folha SP