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O impacto dos agrotóxicos na saúde mental – 28/09/2025 – Opinião

O impacto dos agrotóxicos na saúde mental - 28/09/2025 - Opinião

O Brasil é um dos maiores produtores e exportadores agrícolas do mundo. De forma preocupante, ocupamos o primeiro lugar no ranking de consumo de agrotóxicos.

Na última década, os relatórios de comercialização de agrotóxicos no Brasil apresentados pelo Ibama constataram um aumento de aproximadamente 80%. Simultaneamente, dados da Anvisa demonstraram que, do total de ingredientes ativos de agrotóxicos com registro para uso no país (504, no total), 397 eram produtos químicos produzidos industrialmente, sendo que 146 destes não são comercializados e utilizados na Europa pelos riscos à saúde humana e ao meio ambiente.

Nesse contexto, está evidente que a utilização de agrotóxicos no Brasil deve ser considerada uma emergência silenciosa em saúde pública, afetando não apenas os trabalhadores e trabalhadoras rurais, mas também os consumidores de alimentos contaminados. Realmente, diversos estudos têm demonstrado que a exposição aos agrotóxicos causa danos agudos e crônicos à saúde humana, incluindo efeitos dermatológicos, visuais, auditivos, respiratórios, gastrointestinais, cardiovasculares de fertilidade e cancerígenos.

Infelizmente, também tem se verificado que alguns tipos de defensivos (como carbamatos, organoclorados e organofosforados) podem causar sérios danos ao cérebro, sendo considerados potentes fatores de risco para o surgimento de doenças neuropsiquiátricas. Esses agrotóxicos (principalmente herbicidas e inseticidas) desequilibram os mecanismos celulares, bioquímicos e moleculares que mantêm a atividade cerebral.

Nesse contexto, os indivíduos expostos a múltiplos tipos de agrotóxicos podem apresentar disfunções cognitivas (memória, atenção e processamento visuoespacial), disfunções motoras e maior risco de aparecimento de algumas doenças neurológicas, como Parkinson, Alzheimer e esclerose lateral amiotrófica.

Além disso, é de extrema importância ressaltarmos que a exposição dos trabalhadores e das trabalhadoras rurais aos agrotóxicos potencializa o surgimento de casos de ansiedade e depressão, afetando com maior gravidade a saúde mental. Infelizmente, esses transtornos têm sido associados aos altos índices de suicídio entre agricultores e agricultoras (dobro da média nacional), sendo uma das grandes preocupações de algumas comunidades agrícolas. Ademais, vale destacar que o estresse crônico nas comunidades agrícolas, causado pelas incertezas climáticas, pressão financeira, isolamento social, moradia precária e desafios relacionados ao trabalho, também impacta diretamente na saúde mental dos agricultores e agricultoras.

Finalmente, as ações devastadoras dos agrotóxicos na saúde humana, que afetam as pessoas expostas à contaminação a partir do trabalho e da produção na agricultura e na agricultura familiar, assim como a partir do consumo de alimentos pela população em geral, demandam cada vez mais atenção, interação e colaboração entre a sociedade e o poder público.


TENDÊNCIAS / DEBATES

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo.



Fonte ==> Folha SP

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