Lá vamos nós de novo. Um grupo de astrônomos liderados por Charles Beichman, do JPL (Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa), acredita ter observado um planeta gigante em torno de Alfa Centauri A, a maior das três estrelas do sistema mais próximo do Sol. A observação potencialmente revolucionária veio com o telescópio James Webb, acompanhada, contudo, por uma série de pontos de interrogação.
Alfa Centauri é um alvo preferencial para a busca por exoplanetas, justamente por conta de sua proximidade. A 4,3 anos-luz daqui, ele é composto por duas estrelas similares ao Sol (uma um pouco maior, A, e outra um pouco menor, B), que por sua vez são circundadas por uma terceira, menorzinha, C, mas mais conhecida como Proxima Centauri.
O que a proximidade ajuda, o congestionamento atrapalha. Proxima pode ser bem estudada de forma isolada, e seu tamanho e brilho modestos facilitam a busca por exoplanetas –tanto que já detectamos alguns por lá, dentre eles um mundo rochoso em sua zona habitável. Já A e B costumam estar tão perto uma da outra que é muito difícil captar a luz de uma sem a outra para atrapalhar. Em boa parte do tempo, inclusive, uma transita à frente da outra, inviabilizando observações úteis.
Essa proximidade das duas estrelas, inclusive, ensejou vários estudos que mostram a dificuldade da existência de planetas gigantes por lá, em razão da interação gravitacional forte dos dois astros maiores. E, no entanto, nas observações do Webb, o grupo de Beichman encontrou alguma coisa –algo que já descartaram como um objeto de fundo ou que se interpôs entre nós e Alfa Centauri A.
Detalhe: nas três sessões de observação, feitas em agosto de 2024 e fevereiro e abril de 2025, o tal objeto só aparece em uma. A essa aparição fugidia se junta mais uma, captada em 2019 pelo VLT (Very Large Telescope), no Chile, também jamais repetida. Seriam apenas “miragens” produzidas pelo processamento dos dados do telescópio? Afinal, bloquear a luz de A com um coronógrafo (para poder enxergar o entorno da estrela) e depois limpar a luz de B da imagem exige manipulação considerável.
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Resumo da ópera: ainda não sabemos se há esse tal planeta gigante lá, com mais ou menos o tamanho de Júpiter e a massa de Saturno. Mas, em par de estudos publicado no Astrophysical Journal Letters, Beichman e seus colegas argumentam que parece ser realmente o caso, e que o objeto visto em agosto de 2024 seria o mesmo de 2019, numa órbita elíptica acentuada com período de dois a três anos. O “sumiço” ocasional do planeta se daria por sua periódica aproximação aparente da estrela, fugindo do alcance do telescópio.
É uma perspectiva empolgante, mas que ainda pende por novas observações que confirmem a hipótese. Caso o planeta de Alfa Centauri A esteja mesmo lá, e não seja um artefato das observações, abrirá caminho para estudos detalhados de sua composição atmosférica, com o adendo de que parece se localizar na chamada zona habitável da estrela, adequada para a vida. Num daqueles casos em que a vida imita a arte, ele lembra o planeta gigante gasoso de Alfa Centauri A da cinessérie “Avatar”, em torno do qual gira a fictícia lua habitável Pandora. Nada até agora que o até agora hipotético planeta tenha satélites naturais propícios à vida.
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Fonte ==> Folha SP – TEC