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Odete Roitman tinha razão: o Brasil era um atraso – 01/04/2025 – Mariliz Pereira Jorge

Quase 40 anos separam a estreia do remake de “Vale Tudo” de sua versão original. Em 1988, o país ainda engatinhava na redemocratização, quando deu o grande passo ao criar uma Constituição que prometia liberdade, divisão dos Poderes e direitos sociais. O Brasil era uma zona, só quem viveu sabe.

No papel, o que foi promulgado serviu de alicerce para que mudanças significativas pudessem começar a ser implementadas. Era uma realidade de hiperinflação, analfabetismo, população rural, economia agrária, eleições indiretas, mulheres sujeitas à autoridade paterna ou do marido. Quem tem menos de 35 anos não faz ideia, mas aqui era um atraso —nisso Odete Roitman tinha razão.

Mudou muito, ainda que precise de mais meio século para ser civilizado, seguro e justo. Portanto, é compreensível que as novas gerações tenham pressa para que injustiças sociais recebam respostas efetivas. Cresceram num mundo hiperconectado, onde a informação circula rapidamente e as desigualdades se tornam mais visíveis.

Com acesso a redes sociais e diversidade de fontes de conhecimento, os jovens têm o senso crítico aguçado e são mais conscientes sobre uma infinidade de temas. Além disso, enfrentam desafios como desemprego, crise climática e dificuldades em um mundo mais complexo e heterogêneo, o que os torna mais engajados em causas que buscam transformar a realidade e exigir um país mais inclusivo e menos violento com minorias marginalizadas ou subjugadas que ainda lutam por plenos direitos.

A cena do primeiro capítulo em que Raquel, vivida agora por Taís Araujo, revida o tapa na cara do marido, não estava na primeira versão, mas é condizente com os ventos do feminismo. “Nunca apanhei nessa vida e não vai ser agora que isso vai acontecer” é uma frase que, espero, tenha ecoado nos lares brasileiros, onde milhares de mulheres ainda são vítimas de violência doméstica.

O Brasil do “Vale Tudo” do século 21 não é mais aquele em que reinava silêncio e resignação, mas em termos de politicagem, ineficiência, corrupção e impunidade parece que ainda estamos na década de 1980.



Fonte ==> Folha SP

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