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Planeta errante é observado devorando matéria ao seu redor – 17/10/2025 – Ciência

Ilustração mostra planeta cercado por disco  em tons de vermelho e laranja, com gases em movimento ao redor.

Assim como a Terra orbita o Sol, a maioria dos planetas descobertos além do nosso Sistema Solar orbita uma estrela. Outros, porém, estão por aí sozinhos: os mundos errantes. Suas origens ainda não são bem compreendidas, mas um membro desse grupo oferece novas pistas aos astrônomos, segundo estudo publicado no começo deste mês no periódico Astrophysical Journal Letters.

O artigo é sobre Cha 1107-7626, cuja massa é de 5 a 10 vezes superior à de Júpiter, o maior planeta do nosso Sistema Solar. Ele foi observado durante uma forte explosão de crescimento no centro de um disco de gás e poeira, num processo de formação parecido ao de uma estrela jovem, enquanto devorava a matéria que estava ao seu redor a uma taxa nunca antes vista em tal objeto.

Durante agosto, essa taxa atingiu o pico de 6 bilhões de toneladas por segundo, em torno de oito vezes mais rápido do que o registrado apenas alguns meses antes.

“A explosão que detectamos é extraordinária, sendo semelhante a algumas das fases mais intensas de crescimento observadas em estrelas jovens. Ela revela que os mesmos processos físicos que impulsionam a formação estelar também podem ocorrer em escala planetária”, disse o astrônomo Víctor Almendros-Abad do Observatório Astronômico INAF de Palermo, na Itália, autor principal da nova pesquisa.

“Esse objeto tem cerca de 1 a 2 milhões de anos. Isso é muito jovem para os padrões astronômicos.”

De acordo com Almendros-Abad, o planeta errante parece estar em seus estágios finais de formação e não se espera que ganhe muito mais massa. Acredita-se que ele tenha fortes campos magnéticos canalizando matéria do disco giratório para seu interior, um fenômeno até então só observado em estrelas.

O grupo de pesquisa usou o Very Large Telescope do Observatório Europeu do Sul, no Chile, para estudar Cha 1107-7626. Ele fica na Via Láctea a aproximadamente 620 anos-luz da Terra, na constelação de Chamaeleon –um ano-luz é a distância que a luz percorre em um ano, 9,5 trilhões de quilômetros).

Planetas errantes geralmente têm uma massa algumas vezes maior que a de Júpiter, existindo como sistemas isolados que flutuam livremente no espaço e não estão gravitacionalmente ligados a uma estrela hospedeira.

“Como esses objetos se formam ainda é uma questão em aberto”, disse a astrônoma Belinda Damian, da Universidade de St Andrews (Escócia), coautora do estudo.

Em teoria, segundo Damian, esses mundos podem se formar das seguintes maneiras: como as estrelas, por meio do colapso de uma nuvem interestelar de gás e poeira, conhecida como nuvem molecular; ou como um planeta comum em um disco de matéria girando ao redor de uma estrela recém-nascida, até serem ejetados de alguma forma desse sistema planetário.

Cha 1107-7626 é um gigante gasoso como os maiores planetas do nosso Sistema Solar, não um mundo rochoso como a Terra. E, embora esteja se formando de maneira parecida com à de uma estrela, não chegará nem perto de atingir a massa necessária para iniciar a fusão de hidrogênio em seu núcleo como uma estrela.

Anãs marrons também se constituem dessa maneira e não conseguem se tornar estrelas. Elas têm uma massa que normalmente equivale a 13 a 81 vezes à de Júpiter. Além disso, podem queimar deutério –uma forma de hidrogênio– em seus núcleos por um período limitado de tempo.

O novo mundo errante pode levar a uma compreensão mais completa de como integrantes do seu grupo nascem.

“É uma descoberta empolgante porque geralmente tendemos a pensar nos planetas como corpos celestes que são quietos e estáveis, mas agora vemos que eles podem ser dinâmicos assim como as estrelas em seus estágios nascentes”, afirmou Damian. “Isso de certa forma borra a linha entre estrelas e planetas e nos dá uma prévia dos períodos mais iniciais de formação dos planetas errantes.”



Fonte ==> Folha SP – TEC

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