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Planos para Guerra da Ucrânia disputam definição sobre paz – 25/11/2025 – Rui Tavares

Prédio de tijolos com janelas iluminadas parcialmente destruído. Entulho e destroços espalhados no chão em frente, com uma pessoa caminhando entre os escombros. Árvores e iluminação artificial visível no local.

Há uma noção clássica na teoria militar, atribuída ao grande pensador da guerra Carl von Clausewitz, a que se dá o nome de “nevoeiro da guerra”. A referência é à situação frequente no campo de batalha em que a informação é tão escassa e de tão fraca qualidade que até os líderes das forças em conflito ignoram se estão a ganhar ou a perder.

Poderíamos chamar de “nevoeiro da paz” a situação atual em relação à Ucrânia. Ninguém se entende sobre o que está sendo negociado.

Primeiro falava-se de um plano de 28 pontos, que teria sido apresentado pelos EUA de Donald Trump. A proposta mais parecia uma lista de desejos de Vladimir Putin e um roteiro para a capitulação e humilhação da Ucrânia, que teria de entregar território que não chegou a perder, diminuir drasticamente o seu Exército e não contar com tropas internacionais para garantias de segurança.

Entretanto, suspeita-se que esse plano tenha mesmo sido redigido pelo Kremlin e, nas últimas horas, surgiram notícias dando conta de que o enviado americano Steve Witkoff teria aconselhado os russos sobre a melhor maneira de venderem o seu plano a Trump (como se fosse necessário).

Depois, apareceu um plano europeu, de 24 pontos, que é o exato oposto daquilo que estava no anterior: tem tudo aquilo que os ucranianos querem. Esse plano é menos uma jogada diplomática real do que uma espécie de desabafo europeu por ver a Rússia e os EUA negociarem diretamente o futuro da Ucrânia e da segurança no continente por cima da cabeça dos próprios europeus.

Finalmente, parece que está sendo negociado um plano de 19 pontos entre os EUA e a Ucrânia. Nesse plano, Zelenski aceita uma diminuição do seu Exército para 800 mil ativos, o que é mais do que tem agora, e de resto ignora-se tudo.

Uma visão superficial poderia nos levar a dizer: tudo ótimo, pelo menos estão falando de paz em vez de guerra, certo? Bem, na verdade, a guerra prossegue e não estão todos falando da mesma paz.

De certa forma, o grande combate aqui não é o que se trava no terreno, mas antes a disputa de quem tem direito a chamar paz às suas preferências e convencer a opinião pública mundial de que aquilo a que se chama paz é a paz verdadeira.

Putin leva vantagem nesse quesito. Com seus aliados políticos e suas operações de influência nas redes sociais e no comentariado internacional, construiu a ideia de que está ganhando uma guerra na qual conquistou um quinto do território ucraniano e mal está avançando, à custa de centenas de milhares, ou mais de um milhão, de soldados seus enviados como bucha de canhão.

Daqui resulta a ideia de que o melhor para a Ucrânia é ceder já, para não vir a pagar o preço mais alto de ceder mais tarde.

No meio de tudo isso, os europeus estão pagando o preço por terem optado por uma estratégia de complacência com Trump, em vez de terem entendido que deixaram de contar com um aliado em Washington.

Ora, como no passado, o destino da Europa está sendo decidido sem os europeus. Ou o continente avança para uma união política com um componente de defesa, ou terá de aceitar essa humilhação. E chamar-lhe paz.



Fonte ==> Folha SP

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