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Prefeitos surfam nas ondas da criminalidade – 28/02/2025 – Luís Francisco Carvalho Filho

A imagem mostra a entrada de um edifício em São Paulo, com uma placa informativa ao lado. A placa exibe dados como

Faz tempo, a questão da segurança pública está no epicentro da politica eleitoral.

No século passado, Paulo Maluf punha a “Rota na rua”, reforçando a pronúncia da letra “r”, como um trava-língua, para sinalizar para o eleitor: a Rota desce o cacete. Jânio Quadros instituiu em São Paulo a Guarda Municipal. A partir do primeiro mandato de Lula, o número de presos se multiplica. Bolsonaro tem simpatia pela imunidade para policiais assassinos e truculentos.

A violência é real. É legítima e necessária a ambição de andar livremente, sem medo, pelas cidades do Brasil.

Mas “matar mais”, por exemplo, não se promete. É coisa que se deixa fazer, fechando os olhos. Os governos de São Paulo, Rio de Janeiro e Bahia têm na letalidade policial um instrumento de propaganda eficaz, sutil, subliminar: aqui não tem moleza. O Judiciário é cúmplice ao criar jurisprudência tolerante.

Os prefeitos de São Paulo e do Rio de Janeiro decidiram surfar nas ondas da criminalidade em busca da aprovação popular.

Candidato a governador, Eduardo Paes quer instituir (fora da esfera da Guarda Municipal) uma força de segurança armada “altamente qualificada”. O prefeito carioca, sempre camarada de bicheiros que patrocinam o maravilhoso Carnaval, imagina, como se isso fosse garantia de formação humana, ética e profissional, uma tropa ostensiva formada por oficiais da reserva do Exército.

A remuneração dos novos agentes seria seis vezes superior ao que hoje recebem os guardinhas municipais, que, assim, se transformariam em vigilantes de segunda classe. O toque populista da medida fica por conta de suposto foco, muito bacana, na prevenção de delitos contra mulheres e idosos.

Seria uma força auxiliar ou complementar a forças policiais tradicionais do Rio de Janeiro —com a reputação irremediavelmente manchada pela corrupção e pela violência, pela política de tiroteio e balas perdidas. Como o prefeito é moderno, certamente encomendará um traje especial e elegante para os novos milicianos, repleto de traquitanas caras e vistosas, mas, por enquanto, nada se diz sobre instrumentos para controle e prevenção de abusos.

Ricardo Nunes acaba de inaugurar, no âmbito do projeto Smart Sampa, de monitoramento da população paulistana por milhares de câmeras de reconhecimento facial, um painel com estatísticas criminais favoráveis ao prefeito orwelliano.

A cidade de São Paulo, que já contava com o enigmático “impostômetro” (painel eletrônico patrocinado pela Associação Comercial, entidade de classe historicamente ligada ao malufismo, que não exibe para o transeunte o “sonegômetro” de seus associados), tem agora o “prisômetro“, mais um mecanismo de propaganda eleitoral não auditado.

O painel de Ricardo Nunes “informa” o número bruto de prisões em flagrante, de captura de foragidos e de localização de pessoas desaparecidas. É uma maravilha, mas não há “abusômetro”, o registro do número de flagrantes indevidos, de abordagens truculentas e de reconhecimentos equivocados.

O Supremo Tribunal Federal proíbe a realização de investigações e coleta de provas pelas guardas municipais, mas encheu de entusiasmo prefeitos vocacionados para a repressão de “vagabundos” ao legitimar buscas domiciliares em caso de fundada suspeita.



Fonte ==> Folha SP

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